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22 de março de 2025

Vozes Entre Mundos

Maria sonhava em francês, chorava em inglês, amava em português. 
As frases misturavam-se na boca, um mosaico de sons. 
"És de onde?" perguntavam. Silêncio. 
No espelho, via-se inteira. Não era metades, era de todas.

36 palavras sobre aqueles que falam e escrevem em mais do que uma língua

#36Palavras #laritacaramela

21 de março de 2025

O medo do desconhecido…

Fui buscar o meu primeiro poema (reajustei, revisei, reli). De 2008, para o Dia da Poesia.  
 

Tenho anjos no céu e na terra,
Velam por mim, amparam-me a alma,
Sussurram promessas na brisa que berra,
E acalmam-me o medo, que esmaga.

Leio um livro em momentos de dor,
Tenho a mente desperta para o essencial,
Sei que na vida, não basta o ardor,
É preciso o justo, o real e o vital.

O corpo obedece à voz do pensar,
Dança ao compasso do que a alma ordena,
Se o coração e a razão sabem concordar,
A vida caminha, segura e serena.

Mas há um nó que me prende o peito,
Uma sombra que insiste num sopro a tremer,
E então eu respiro, recordo o perfeito,
Penso em beleza... e deixo de ter.

Tenho medo e receio do incerto,
Mesmo que o tenha já enfrentado,
Pois tudo o que é novo renasce coberto
De um véu de mistério, de um medo calado.

Mas o tempo, esse mestre, ensina e desfaz,
E até o receio dissolve-se, num suspiro profundo.
Deixa na pele as marcas que o tempo traz,
E no passado, esculpe as lições do mundo.

20 de março de 2025

19 de março de 2025

Um dia, meu Pai.

Sinto a tua falta de uma forma que não consigo explicar.
A saudade é uma presença constante,
um peso que me acompanha.
Às vezes, falo sozinha,
na esperança de ouvir a tua voz,
uma resposta que sei que não virá.
O silêncio é tudo o que encontro.
Mas depois, sem aviso, apareces.
Nos meus sonhos, onde a tua presença é tão real.
Nas lembranças que surgem e invadem-me,
como se o tempo nunca tivesse passado.
Numa nuvem que se cruza no céu,
como se estivesses a sorrir para mim.
Sei que estás e estarás sempre,
a vigiar por mim e por todos nós.
Mas as saudades são tão fortes…
Há tanto coisa que gostaria de te contar.
Há tantas perguntas que ficaram por fazer…
e as lágrimas surgem, sem querer, sem aviso.
Mas há algo que sei, com toda a certeza.
Um dia, vamos reencontrar-nos.
os nossos braços vão envolver-se novamente.
E, nesse dia, meu pai,
será como se o tempo não tivesse existido.

18 de março de 2025

Desafio

DESAFIO MENSAL DE CLUBE DOS WRITERS

Tema: UM DIA NA VIDA DE UMA PERSONAGEM HISTÓRICA

Género: conto, até 1000 palavras. 

Um dia na vida e Luís de Camões em Goa:

https://larita-caramela.blogspot.com/p/um-dia-na-vida-de-luis-de-camoes-em-goa.html

 

16 de março de 2025

No fim da linha

O quarto estava mergulhado em silêncio, excepto pelo sussurro delicado da agulha a deslizar entre os fios. Helena tecia. Sempre tecera. Desde que se lembrava, os dedos seguiam os caminhos do novelo, transformando o caos em forma, alinhava destinos na grande tapeçaria do tempo. Mas agora, restava-lhe apenas um fio. O último. À sua volta, tapeçarias pendiam das paredes de pedra. Algumas vibravam suavemente, vivas com a respiração daqueles cujas histórias ainda se desenrolavam. Outras estavam frias, os rostos nelas bordados congelados para sempre no esquecimento. Era assim que funcionava. Era assim que sempre funcionara. Helena passou os dedos sobre o fio derradeiro. Estava gasto, fino como um sussurro. A cada laçada, um rosto surgia no tecido, uma menina de olhos cor de mel, um jovem que amava as estrelas, uma mulher que sussurrava segredos ao vento. Pessoas cujos destinos, ela entrelaçara sem nunca lhes tocar a pele. Mas o novelo afunilava-se entre os seus dedos, a linha escorrendo como areia. O tempo, que sempre se movera ao seu redor sem a alcançar, agora pesava nos seus ombros curvados. Ela sabia o que aquilo significava. A sala parecia prender a respiração. O ar pulsava à sua volta, expectante. O tear rangeu suavemente quando ela passou a agulha pela última vez. Fechou os olhos. Inspirou devagar. No instante final, hesitou. Olhou para a tapeçaria à sua frente. Viu-se entrelaçada nela, um fio quase invisível, discreto entre tantos outros. Um nó que sempre evitara reconhecer. Um nó que agora precisava desatar. Com dedos trémulos, puxou a ponta solta. O fio cedeu. O tear parou. As velas estremeceram, lançando sombras dançantes nas paredes. O silêncio adensou-se, profundo como um abismo. E, no fim da linha, Helena desapareceu gradualmente, como se desfizesse no ar, tornando-se oculta.

14 de março de 2025

Controvérsias


As palavras duras, que nos fazem pensar,
Olho para mim, no limiar do olhar.
No ser ou não ser, no querer ou não querer,
No gosto ou desgosto, no sentir ou não sentir.

Às vezes, é preciso decidir,
E saber que a vida nos pode sorrir,
Com coisas belas e também dolorosas,
Mas o tempo e o amor curam quase tudo.

Olho para dentro, no meu coração,
No livro do passado, encontro a lição.
E vejo que muitas coisas mudaram,
E o futuro, incerto, ainda esperam.

A força de expressão, a liberdade de pensar,
Decifrar os olhares, os gestos a revelar,
Nos levam a escolhas que a vida nos dá,
E deixam marcas, que o tempo não apaga.

A vida é viver passo a passo,
Aproveitar o agora, sem cansaço,
Tomar decisões com firmeza e razão,
E ser feliz, com o coração.

Amar a vida é um passo gigante,
Amar o outro é o gesto mais importante,
Amar o que nos cerca é puro e belo,
Amar é um presente, com eterno laço.

13 de março de 2025

36 palavras sobre a caixa!


A caixa descansava esquecida no sótão.
Dentro, cartas amareladas, fotografias desbotadas, um relógio parado.
Ecos de um tempo intacto, mas inalcançável.
Ao abri-la, não encontrou apenas objetos.
Encontrou-se a si mesma, perdida noutra vida.

 

#36Palavras #laritacaramela 

11 de março de 2025

Uma Amizade Improvável



No sótão da Dona Elvira, perdido entre pilhas de objetos antigos, uma meia solitária descansava, completamente desbotada. Ao seu lado, uma tampa de ‘Tupperware’ olhava para o vazio, indignada.

— Isto é um escândalo! Fui tampa de uma caixa que viu festas elegantes! Agora, sou apenas... um pedaço de plástico esquecida! — resmungava a tampa, enfurecida.

A meia olhou para ela, sem muita esperança.

— Bem, tu até tens razão.  Eu já fui parte de algo maior, uma dupla de sucesso. Agora, sou... um pedaço de pano que ninguém quer!

A tampa virou-se, com um brilho alucinante nos olhos.

— Quem disse que não podemos ser mais? Talvez seja o começo de algo novo!

A meia, já um pouco desconfiada.

— Tu achas? Depois de tanto tempo amontoada aqui, ainda existe espaço para a gente brilhar?

— Claro! Olha para ti! Já pensaste em ser um avental chique, ou um travesseiro improvisado?

A meia, com uma leve animação, respondeu:

— E tu, o que farias com esse potencial todo?

A tampa sorriu, triunfante.

— Eu? Posso ser uma prateleira temporária, um guardanapo para um jantar excêntrico... ou até uma peça de arte moderna!

Sem mais esperas, ambas saltaram do sótão. Desceram pelo corredor, desviando de obstáculos e caíram na cozinha. A meia aterrou com leveza, mas a tampa bateu de forma estrondosa, a rebolar até ao prato do gato.

— Agora é que acabamos! — disse a meia, já resignada.

— Não! Apenas precisamos de mais... velocidade!

E assim, entre saltos apressados e um gato à solta, a meia e a tampa perceberam que, mesmo sem saber muito bem o que faziam, o mundo ainda tinha espaço para coisas que ninguém mais reparava… se fossem ousadas o suficiente para recomeçar.

8 de março de 2025

36 palavras sobre coisas que se perdem


Os nomes dos primeiros amigos.
O cheiro da casa antiga.
O riso de quem partiu.
Perdem-se as chaves, as memórias.
Algumas voltam. Outras, não.
E há perdas que doem porque levam pedaços de quem somos.

#36Palavras #laritacaramela 

Em Cada Mulher

Em cada mulher, um mundo se revela, 

Mistérios e sonhos na tela mais bela.

Olhos que brilham como estrelas no mar,

Sorrisos que sabem a dor superar.

 

Na dança ardente de paixão e ternura,

Mãos que transformam ferida em cura.

Vozes que rompem o silêncio imposto,

Palavras que inflamam o mais frio rosto.

 

Ousadia que rasga os grilhões da história,

Coração valente, guardião da memória.

Ventre que gera, abrigo sagrado,

Amor infinito, jamais domado.

 

Beleza que pinta cada traço da vida,

Cores e formas na alma sentida.

Força que ergue e move montanhas,

Na dor, a chama que nunca se apanha.

 

Alma que carrega o tempo e o vento,

Sabedoria esculpida em cada momento.

Versos que dançam entre o real e o ideal,

Em cada senhora, um cosmos ancestral.

 

Poema que cresce em cada batida,

Sinfonia eterna que embala a vida.

Convite subtil ao amanhã que se alcança,

Em cada humana, vive a esperança.

 

Um hino ao mundo, um farol a brilhar,

Voz que não cala, mar que não quer parar.

Em cada verso, um novo horizonte,

Em cada mulher, a vida na sua fonte.

 

Sai hoje na revista digital Vinca Literária.