O sol nascia no quarto creme. A luz filtrava-se pelas persianas, desenhando sombras no chão. O ar cheirava a desinfetante e silêncio. O lençol, áspero contra a pele marcada, colava-se à carne como se quisesse lembrar onde doía. E eu, presa entre tubos e cicatrizes frescas, olhava o tecto como quem olha um céu escuro. O silêncio era denso. Só quebrado pelo bip das máquinas, esse compasso metálico da sobrevivência. Ali, o tempo não era tempo. Era espera. Era dor com nome e hora marcada. Não me lembro da última vez que respirei sem dor. O meu corpo era um campo de batalha. A pele, trincheira. Os músculos, soldados exaustos. E as cicatrizes… As cicatrizes eram fronteiras. Terreno conquistado. Cada linha na carne contava o avanço de uma ofensiva vencida a custo. Uma emboscada superada. Um regresso possível. Lutei. Sozinha. Mas não como nos filmes. Sem música. Sem frases de efeito. Lutei em silêncio. Com o maxilar cerrado. Com a raiva sussurrada para dentro. C...
O que ouvi, o que senti, o que fiz
e o que despertou a minha curiosidade...