As mãos da mãe Júlia, marcadas pelo tempo e pelas responsabilidades, eram firmes, mas guardavam uma suavidade intrínseca, aquela que somente o amor incondicional consegue preservar. Elas seguravam um frágil barco de papel com uma precisão cuidadosa, consciente de que, apesar da sua leveza, carregava os sonhos preciosos. Cada movimento era impregnado de ternura, como se soubesse que aquele pequeno objeto era mais do que papel: era a chave para um mundo que ela mesma ajudava a criar.
As mãos do filho João, pequenas, inquietas e cheias de uma energia vibrante, tocavam no barco com uma ansiedade de quem está a desvendar os mistérios do universo pela primeira vez. O toque infantil, desajeitado, mas cheio de vida, dava forma a novas aventuras a cada instante. Os seus dedos percorriam as dobras do papel como se explorassem um mapa desconhecido, em cada linha era um caminho a seguir, um destino a conquistar.
Entre as mãos da mãe e do filho, o barco de papel transformava-se. Deixava de ser apenas uma dobradura simples e tornava-se um navio corajoso, comandado por um capitão audaz e muitos marinheiros fortes e enérgicos, sempre prontos para enfrentarem os oceanos da imaginação.
Juntos, a mãe e filho, através do toque, criavam um momento de profunda cumplicidade. As suas mãos não só moldavam o barco, mas também o futuro, ia a tecer uma narrativa conjunta onde ambos eram protagonistas de aventuras que ultrapassavam a realidade.
Aquele contacto, possua o seguro e o inocente, entre o conhecido e o inexplorado, era um compromisso. Uma promessa de proteção, de descoberta, de apoio mútuo. As mãos, naquela comunhão silenciosa, tinham o poder de transformar o banal em extraordinário, de educar e, ao mesmo tempo, deseducar, libertando-se das regras para criar um mundo, onde o impossível se tornava possível.
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