Às vezes, não há mesmo um aviso.
As cortinas do tempo se abrem, nuas,
sem música, sem prólogo,
só o silêncio e as mãos cruas.
Em
poucos segundos, tudo cai.
O chão que parecia tão seguro se esvai em névoa.
E o que era o alicerce torna-se apenas rastro, poeira.
Vivemos
na ilusão do comando,
traçando um plano como um cartógrafo,
crendo que a vida é linear e previsível,
mas é maré e vento errático.
Pensamos
demais. A mente pesa.
O que virá? O que foi? E se fosse...?
Levamos as pedras nos bolsos
e esquecemos o instante que nos trouxe.
Pensa
menos e sinta mais.
Sinta o calor do sol sobre a face,
o silêncio a dançar entre os sentidos,
o riso sem razão, leve e fugaz,
o arrepio dos tempos já partidos.
A
vida é curta e bela,
E se a olharmos bem, nem é breve é um sopro.
Suspiro
entre dois vazios.
Aproveitar não é correr, é ser.
É colher figos antes que estejam frios.
Há
beleza no estar, simplesmente,
viver com atenção, em alma presente,
amar sem rede, sem garantias,
sorrir sem causa, eternamente ausente.
Não
há promessa firme do amanhã.
Só este agora, feito sem demora.
Tão frágil como a pele da maçã,
e tão eterno quanto o sopro do agora.