Avançar para o conteúdo principal

O Dia do Rei - Alcácer do Sal, outono de 1158


O vento quente que soprava do sul trazia o cheiro a especiarias e mar, mas no campo português, o ar sabia apenas a ferro e suor. O acampamento estendia-se como um animal agachado, feito de tendas, lanças e cavalos impacientes. Um crepúsculo tingia o céu de púrpura e ouro, refletindo-se nos elmos e nas cotas de malha dos homens que afiavam espadas e rezavam em voz baixa.

Afonso Henriques observava-os em silêncio. Desde a alvorada que sentia aquela inquietação no peito, não de medo, porque o receio era um luxo de homens fracos, mas algo mais profundo, um pressentimento de que aquela noite ficaria gravada na pedra da história.

Virou-se para Pedro Pais da Maia, que surgira à entrada da tenda, o rosto endurecido pelo cansaço e pela expectativa.

— O que dizem os batedores?

Pedro hesitou um instante, depois deu um passo à frente.

— Os mouros esperam um cerco longo. Têm mantimentos para meses e reforçaram os portões com ferro. Há patrulhas a cada duas horas e os caldeirões de azeite já estão nas torres.

Afonso Henriques não desviou o olhar do seu capitão.

— E a sul?

— Muro alto, mas menos guardado. Se atacarmos a norte, como eles esperam, podemos escalar por ali.

O rei fechou os punhos. Sentia o peso das batalhas passadas nos ossos, mas a mente permanecia afiada como a lâmina da sua espada. Não podia recuar nem hesitar. Alcácer do Sal era um espinho cravado na carne do seu reino e arrancá-lo significava abrir caminho para o futuro.

— Fingimos um assalto ao portão norte. Usamos isso para atrair as forças deles. Mas os nossos melhores homens escalam os muros a sul. Antes do nascer do sol, Alcácer do Sal será nossa.

Pedro Pais assentiu. Não havia nada mais a dizer.

Afonso Henriques permaneceu de pé, fitando a cidade. As muralhas erguiam-se contra o céu escuro, desafiadoras. Os seus dedos percorreram o cabo da espada, sentindo a textura familiar do punho de couro.

— Que Deus nos guie — murmurou.  ….. Até 1000 palavras.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Portugal no Guiness com a maior bandeira humana...

PORTUGUESE FEMALE POWER On 20 May 2006 we had the pleasure of spending 48 hours in Portugal adjudicating an attempt on the Guinness World Record for the Largest Human National Flag. The record to beat was set in Scotland earlier this year when 13,254 fans formed the Saltire, the Scottish national flag, at a Scotland v France Six-Nations game at Murrayfield Rugby Club. Held at Lisbon's national stadium, the event was organized by a company called Realizar who had plenty of experience having organized seven other successful Guinness World Records attempts. These include the Largest Hockey Stick, a staggering 56 ft 7 in ( 17.25 m) long, the Largest Human Logo made up of 34,000 people (part of Portugal's successful bid to host the Euro 2004 soccer championships) and the Largest Football with a whopping diameter of 19 ft 10 in (6.06 m)! But the focus this time was once again on mass participation. The record attempt was part of a larger celebration organized by Banco Espirito Santo,...