O sino da aldeia ecoava três vezes, anunciando o Outono com ares de velho farsante. Uma folha ria-se, convencida de que nunca cairia.
O padeiro observava, riu, bocejou, tossiu. Espreguiçou-se. Depois sorriu.
A folha, levada pelo vento maroto, girava descontrolada sobre telhados, tropeçando em chaminés, beijando janelas, mergulhando em poças barrentas, zombando do ciclo inevitável da gravidade.
As crianças batiam palmas, mas não só. Uma menina tentou agarrá-la, falhando de propósito. Um rapaz imitava as piruetas, quase caindo do muro. Até o padre, que raramente se deixava corromper pelo riso, apertou o rosário com mais leveza, como se cada conta fosse aplauso secreto.
O vento, vendo a multidão rendida ao espetáculo, decidiu exagerar, lançando a folha contra a torre do sino, confundindo até os pombos sonolentos.
A folha, cansada do seu circo improvisado, pousou no ombro do sacristão. Já não ria. Mas também não chorava. Apenas sabia. Ele ergueu a folha como quem levanta uma estrela caída do céu, guardou-a no bolso, como quem guarda um segredo que só o Outono entende.
O vento, impaciente, bufou de forma dramática, tentando arrancá-la de lá, mas a folha não se mexeu. Até os pombos, curiosos, cochicharam entre si. A aldeia esperava uma última pirueta, um salto heroico. Mas nada aconteceu. Nem risos, nem voo, nem aplausos. E, no fim, não.

Comentários