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A mostrar mensagens de setembro, 2025

A Folha que Ria do Outono

Dinâmica: Com 300 palavras com titulo,1º paragrafo contém vinte e duas palavras,2º paragrafo contém nove palavras,3º paragrafo contem vinte e cinco palavras, as palavras obrigatórias Outono e folha. Tem de acabar com a palavra não. O sino da aldeia ecoava três vezes, anunciando o Outono com ares de velho farsante. Uma folha ria-se, convencida de que nunca cairia. O padeiro observava, riu, bocejou, tossiu. Espreguiçou-se. Depois sorriu. A folha, levada pelo vento maroto, girava descontrolada sobre telhados, tropeçando em chaminés, beijando janelas, mergulhando em poças barrentas, zombando do ciclo inevitável da gravidade. As crianças batiam palmas, mas não só. Uma menina tentou agarrá-la, falhando de propósito. Um rapaz imitava as piruetas, quase caindo do muro. Até o padre, que raramente se deixava corromper pelo riso, apertou o rosário com mais leveza, como se cada conta fosse aplauso secreto. O vento, vendo a multidão rendida ao espetáculo, decidiu exagerar, lançando a fo...

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Vulcão em Repouso

Tema: INVESTIGAR PARA ESCREVER… UM CONTO ERÓTICO - A Casa dos Budas Ditosos (Nos top 3 do Clube dos Writers) Nota da autora Este conto nasce da recusa. Recusa do apagamento, da culpa, do silêncio. Aqui, o corpo não é metáfora, é argumento. A sexualidade não é 'performance' é filosofia encarnada. É direito de existir com desejo, com rugas, com história. Cada toque é protesto, cada gozo é sobrevivência. O que pulsa não é apenas carne, é memória, é resistência Acordei com um calor entre as pernas que não era só físico, era lembrança. Aos 67 anos, o meu corpo não precisa de espelho para saber que mudou. A carne cedeu, os vincos chegaram. Mas a fome… a fome subsistiu. E ficou mais cruel. Mais honesta. Às vezes vinha baixa, como uma reza: «   Ainda posso ?» E a resposta era sempre: «Não posso não querer.» Na juventude, tinha relações por impulso, uma corrida sem mapa. Hoje é ritual. Cada toque tem peso. Cada momento carrega história. Antes do Marcelo chegar, olhei-me...

O Prazo entre as Estantes

O tempo não se apaga: repousa. Entre corredores silenciosos, erguem-se estantes como colunas de um templo invisível, guardando séculos de vozes sussurradas em papel. Cada livro é uma raiz de folhas, mas também uma janela, aberta para horizontes que o olhar ainda não alcançou. Aqui, a palavra não é apenas lida: é sentida no cheiro das páginas antigas, perfume da memória que atravessa gerações. Os passos ecoam suaves no soalho, como se cada visitante fosse também parte da história. É o lugar onde o estudante encontra respostas, o idoso reencontra lembranças e o curioso descobre mundos que nunca pisou. Não há pressa dentro destas portas. As horas curvam-se como arcos de pedra, lembrando-nos que o saber floresce na paciência. A biblioteca é refúgio contra o ruído do mundo, espaço de continuidade, onde o humano se reconhece como fragmento de um tempo vasto e herdeiro de um saber que não lhe pertence só a ele. Em Braga, quem por ela passa, leva consigo não apenas palavras, mas o murmúrio...

O Conto do Treze

Era noite de lua minguante, e o silêncio cobria a aldeia como véu pesado. As casas dormiam, mas tu, guiada pelo teu número secreto, caminhavas até a velha ponte de pedra. Passo a passo, contava-os em silêncio. O décimo terceiro era o selo. Não doze, não quatorze. Sempre o treze. Quando o último eco ressoou sobre a ponte, o mundo suspendeu-se. O rio deixou de correr, o vento parou, até os grilos calaram. A noite prendeu a respiração. Foi então que a presença se anunciou, não com passos, mas com a ausência. O ar gelou e um cheiro de ferro húmido, como sangue ou metal esquecido na chuva, subiu da pedra. Antes de a veres, já a sentias, a certeza de algo à tua espera desde sempre. Sentada no parapeito, surgiu a figura: olhos fundos, corpo desenhado mais de sombra do que de carne. — Chegaste, finalmente — disse, com voz que arranhava.. — Não tens medo do número que todos rejeitam? Ergueste o queixo. — Não. O treze é meu. O que eles chamam azar, eu chamo de caminho. A figura sorriu e nesse so...

Chegada

 O último comboio chegou ao cais deserto como um suspiro metálico, arfando vapor pelas gretas enferrujadas. As lâmpadas, embaciadas de pó, vacilavam, e cada clarão parecia denunciar algo que se movia nas sombras. Marta esperava, a mala pequena pendida da mão. Apertava a pega até os dedos lhe doerem. O peso parecia excessivo para tão pouca roupa; por vezes, jurava senti-la oscilar, como se tivesse vida própria. O bilhete no bolso trazia uma única palavra impressa: Chegada . O apito ecoou. Um frio húmido subiu-lhe pelas pernas. As portas da carruagem abriram-se num estertor de ferro. Dentro, bancos gastos, riscados por unhas invisíveis. Silêncio. Cheiro a terra molhada. Sentou-se. As janelas mostravam campos alagados onde presenças imóveis acompanhavam o comboio com olhos que não existiam. Casas sem portas, torres tortas contra um céu sem estrelas. Em cada paragem, o monstro de ferro libertava vapor e sombras subiam a bordo — contornos de fumo, imóveis, todos voltados para ela. ...

Sentir o sonho

 Publicação: Revista Ofélia  A casa dormia de olhos fechados. O soalho guardava o frio dos passos. As paredes, húmidas de murmúrios, respiravam o sal das histórias caladas. Lá fora, o mundo estendia-se imóvel, um campo aberto à espera do tempo. As espigas curvavam-se sem vento, como se escutassem um segredo antigo. Uma silhueta avançava devagar, feita de neblina e retorno. Não era sombra nem carne, mas o eco de algo por nascer. Nos braços, trazia o corpo do sonho, ainda quente, ainda a tremer, como um pássaro indeciso entre o voo e a petrificação. O chão reconhecia-lhe o peso, a memória de passos por vir. Mas o sonho começava a fixar-se e no contorno, ardia a dúvida. Seria milagre ou perda? Se se tornasse real, perder-se-ia a chama. A casa estremeceu no soalho. Veio um cheiro a laranja e terra molhada. As janelas abriram-se devagar, como pulmões a reaprender o ar. No rosto da silhueta, um traço de luz o breve milagre entre o antes e o depois....

Mertola