O vento deslizava entre as copas das árvores, murmurando segredos indecentes à noite cúmplice. A escuridão envolvia tudo, espessa e convidativa, um véu onde os sentidos eram despertados à flor da pele. Clara avançava pela estrada deserta, com o corpo vibrando dum desejo febril e inquieto. Sentiu primeiro o silêncio. Não uma ausência banal, mas um convite suspenso, uma promessa. Depois, veio o som, um bater de asas profundo, ritmado, como se a própria noite respirasse ao seu redor. Ela parou, de olhos arregalados e peito arfante. Olhou para cima. Nada, apenas o céu aveludado, escuro. Um arrepio percorreu-lhe a espinha, um choque eléctrico que incendiou cada célula do corpo. Continuou a andar, cada passo mais lento, como se a dança da noite exigisse rendição. O som regressou, mais próximo e íntimo. O bater de asas envolvia-a como um sussurro ao ouvido, um toque sem contacto, uma carícia ardente sem forma. Clara mordeu o lábio, tentando conter o gemido. O ar pulsava ao seu redor, pro...