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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2025

Um jantar há luz das velas com poesia falada, nas paredes...

 

O Dia do Rei - Alcácer do Sal, outono de 1158

O vento quente que soprava do sul trazia o cheiro a especiarias e mar, mas no campo português, o ar sabia apenas a ferro e suor. O acampamento estendia-se como um animal agachado, feito de tendas, lanças e cavalos impacientes. Um crepúsculo tingia o céu de púrpura e ouro, refletindo-se nos elmos e nas cotas de malha dos homens que afiavam espadas e rezavam em voz baixa. Afonso Henriques observava-os em silêncio. Desde a alvorada que sentia aquela inquietação no peito, não de medo, porque o receio era um luxo de homens fracos, mas algo mais profundo, um pressentimento de que aquela noite ficaria gravada na pedra da história. Virou-se para Pedro Pais da Maia, que surgira à entrada da tenda, o rosto endurecido pelo cansaço e pela expectativa. — O que dizem os batedores? Pedro hesitou um instante, depois deu um passo à frente. — Os mouros esperam um cerco longo. Têm mantimentos para meses e reforçaram os portões com ferro. Há patrulhas a cada duas horas e os caldeirões de azeite ...

Silêncio Sangrento

Dinâmicas: Tema: Erro até 100 palavras A faca escorregou-lhe das mãos. O som metálico contra o azulejo rasgou o silêncio. O sangue, quente, espalhava-se pelo chão. João recuou, os olhos presos na ferida aberta no peito de Miguel. Não era suposto. Era apenas uma discussão. Um impulso. Miguel engasgou-se ao tentar falar. A boca tremia, os olhos suplicavam. João caiu de joelhos, pressionando a ferida, mas o sangue fugia-lhe pelos dedos. — Aguenta… por favor… O aperto na mão de João afrouxou e o olhar de Miguel perdeu-se no vazio. O grito ficou preso na garganta e o erro, viveria para sempre.

Asas na noite

O vento deslizava entre as copas das árvores, murmurando segredos indecentes à noite cúmplice. A escuridão envolvia tudo, espessa e convidativa, um véu onde os sentidos eram despertados à flor da pele. Clara avançava pela estrada deserta, com o corpo vibrando dum desejo febril e inquieto. Sentiu primeiro o silêncio. Não uma ausência banal, mas um convite suspenso, uma promessa. Depois, veio o som, um bater de asas profundo, ritmado, como se a própria noite respirasse ao seu redor.  Ela parou, de olhos arregalados e peito arfante. Olhou para cima. Nada, apenas o céu aveludado, escuro. Um arrepio percorreu-lhe a espinha, um choque eléctrico que incendiou cada célula do corpo. Continuou a andar, cada passo mais lento, como se a dança da noite exigisse rendição. O som regressou, mais próximo e íntimo. O bater de asas envolvia-a como um sussurro ao ouvido, um toque sem contacto, uma carícia ardente sem forma. Clara mordeu o lábio, tentando conter o gemido. O ar pulsava ao seu redor, pro...

Meu Amor, Minha Essência

No silêncio da noite, penso em ti, És a luz que ilumina o meu existir. O teu sorriso é sol, doce e subtil, O teu abraço, o refúgio que me faz sorrir. Desde o instante em que te encontrei, O meu mundo ganhou nova direção. Nos teus olhos, um caminho encontrei, No teu amor, nasceu a minha paixão. Cada dia contigo é um poema novo, Escrito em versos de paz e calor. És o sonho que tanto renovo, Minha razão, meu eterno amor. No frio da vida, és meu cobertor, Que aqueces a minha alma com ternura. Se és primavera, sou teu fervor, Vivemos em nós a mais bela aventura. Quero ser o porto onde sempre ancoras, Nos ventos que sopram, firmar-te ao chão. Amar-te nas horas calmas e agora, Ser a tua metade, a tua consolação. Assim termino, com o coração aberto, Prometendo amar-te até ao fim. Nos caminhos da vida, sempre por perto, Meu eterno amor, és tudo para mim. Participei e selecionada para constar na  Coletânea de Cartas de Amor “Três Quartos de Um Amor".

Cinzas da Libertação

Luz das Letras: Escreva uma frase curta (máximo 20 palavras) relacionada com o elemento (fogo). Depois, crie um texto onde contenha a frase que criou (até 300 palavras).   As chamas dançavam ao vento, consumindo a madeira crepitante, enquanto a luz dourada refletia nos olhos fascinados da jovem observadora. Clara permaneceu imóvel, sentindo o calor envolver-lhe o rosto, o cheiro intenso da madeira queimada a invadir-lhe os pulmões. Não recuou. Aquele fogo não era apenas destruição, era uma libertação. Horas antes, encontrara-se sozinha na velha casa, onde as paredes sufocavam ecos de gritos e lágrimas do passado. O cheiro a mofo misturava-se com lembranças cortantes. Ali crescera, entre silêncios esmagadores e palavras afiadas como lâminas. Cada canto daquele lugar exalava dor, as sombras pareciam sussurrar segredos que ela desejava esquecer. Mas agora, segurava a caixa de fósforos, os dedos cerrados, o coração acelerado. Era chegada a hora. O primeiro fósforo acendeu-se num estali...

Luz das Letras com as palavras vela, flores e livro.

A vela tremia ao sabor de uma brisa invisível quando Helena abriu o livro. O cheiro das flores espalhadas pelo chão misturava-se com o aroma antigo do papel, criando um perfume que a transportava para tempos esquecidos. O silêncio era sufocante, pesado como um luto antigo, apenas interrompido pelo som do seu próprio coração a martelar contra o peito. Ela viera em busca de respostas. Durante anos, ouvira sussurros sobre um livro que concedia desejos a quem soubesse lê-lo. Agora, com as mãos trémulas, percorria as páginas cobertas de símbolos que pareciam mover-se sozinhos. Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha quando as palavras começaram a brilhar, uma luz fria e faminta. “Diz o teu desejo”, murmurou uma voz etérea, gélida como o vento de um túmulo aberto. Helena hesitou. Poderia pedir tantas coisas, riqueza, amor, poder, mas havia apenas um desejo gravado na sua alma, uma ferida aberta que nunca cicatrizara. "Quero ver a minha mãe outra vez." O vento soprou com uma força...

Burlas e enganos

O relógio marcava as três da manhã quando Pedro verificou as mensagens no telemóvel. "Mais um cliente ansioso para investir", pensou, sorrindo, enquanto os dedos deslizaram pelo ecrã, frios e calculistas. Nos últimos anos, tinha refinado a sua arte, fingia ser agente imobiliário, vendendo sonhos que nunca se tornariam realidade. Uma mentira bem contada valia milhares de euros. E ele contava-as sem pestanejar. Desta vez, o alvo era Henriques, um jovem casal desesperado por encontrar casa própria. Pedro usou as mesmas estratégias de sempre, fotografias de casas luxuosas, contratos falsificados, um site profissional que sumiria assim que recebesse o pagamento. "É a oportunidade da vossa vida. Se não aproveitarem agora, amanhã já não há hipótese", insistiu, injetando urgência na sua voz. Henrique hesitou, mas o medo de perder a suposta oportunidade venceu. Em poucos minutos, os 15.000 euros estavam na conta de Pedro. Na manhã seguinte, apagou todos os vestígios da sua e...