A vela tremia ao sabor de uma brisa invisível quando Helena abriu o livro. O cheiro das flores espalhadas pelo chão misturava-se com o aroma antigo do papel, criando um perfume que a transportava para tempos esquecidos. O silêncio era sufocante, pesado como um luto antigo, apenas interrompido pelo som do seu próprio coração a martelar contra o peito.
Ela viera em busca de respostas. Durante anos, ouvira sussurros sobre um livro que concedia desejos a quem soubesse lê-lo. Agora, com as mãos trémulas, percorria as páginas cobertas de símbolos que pareciam mover-se sozinhos. Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha quando as palavras começaram a brilhar, uma luz fria e faminta.
“Diz o teu desejo”, murmurou uma voz etérea, gélida como o vento de um túmulo aberto. Helena hesitou. Poderia pedir tantas coisas, riqueza, amor, poder, mas havia apenas um desejo gravado na sua alma, uma ferida aberta que nunca cicatrizara. "Quero ver a minha mãe outra vez."
O vento soprou com uma força desumana, apagando a vela num sussurro de sombras. As flores murcharam num instante, estalando como vidro partido. A sala foi engolida pela escuridão e o livro aqueceu até queimar as suas mãos. Soltou um grito, mas a dor desvaneceu-se quando uma luz fantasmagórica se ergueu diante dela.
E então, ali estava. A figura delicada da sua mãe, os olhos marejados de saudade, um sorriso que escondia a dor de um tempo roubado. As lágrimas de Helena caíram descontroladas. "Mãe…", sussurrou. Tentou tocar-lhe, mas sentiu apenas o vazio frio do ar. A mãe esboçou um último olhar, os seus contornos já a desvanecerem-se como fumo levado pelo vento.
"O tempo é breve", sussurrou ela e a sua voz ecoou como um lamento perdido no espaço entre os vivos e os mortos.
Helena gritou, tentou agarrá-la, mas tudo desapareceu num instante. O livro caiu no chão, inerte, as páginas agora em branco, como se nunca tivessem contido magia alguma. A vela reacendeu-se sozinha, lançando sombras dançantes contra a parede. Restavam apenas as flores caídas, frágeis e quebradas, como testemunhas silenciosas de um desejo concedido… e perdido para sempre.
Santa Lúcia de Siracusa (± 283 - † 304), mais conhecida simplesmente por Santa Luzia (santa de luz), segundo a tradição da Igreja Católica, foi uma jovem siciliana, nascida numa família rica de Siracusa, venerada pelos católicos como virgem e mártir, que, segundo conta-se, morreu por volta de 304 durante as perseguições de Diocleciano. Na antiguidade cristã, juntamente com Santa Cecília, Santa Águeda e Santa Inês, a veneração à Santa Lúcia foi das mais populares e, como as primeiras, tinha ofício próprio. Chegou a ter vinte templos em Roma dedicados ao seu culto. O episódio da cegueira, ao qual a iconografia a representa, deve estar ligado ao seu nome Luzia (Lúcia) derivada de lux (= luz), elemento indissolúvel unido não só ao sentido da vista, mas também à faculdade espiritual de captar a realidade sobrenatural. Por este motivo Dante Alighieri, na Divina Comédia, atribui-lhe a função de graça iluminadora. É assim a padroeira dos oftamologistas e daqueles que têm problemas de visão. Su...
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