Avançar para o conteúdo principal

Luz das Letras com as palavras vela, flores e livro.

A vela tremia ao sabor de uma brisa invisível quando Helena abriu o livro. O cheiro das flores espalhadas pelo chão misturava-se com o aroma antigo do papel, criando um perfume que a transportava para tempos esquecidos. O silêncio era sufocante, pesado como um luto antigo, apenas interrompido pelo som do seu próprio coração a martelar contra o peito. Ela viera em busca de respostas. Durante anos, ouvira sussurros sobre um livro que concedia desejos a quem soubesse lê-lo. Agora, com as mãos trémulas, percorria as páginas cobertas de símbolos que pareciam mover-se sozinhos. Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha quando as palavras começaram a brilhar, uma luz fria e faminta. “Diz o teu desejo”, murmurou uma voz etérea, gélida como o vento de um túmulo aberto. Helena hesitou. Poderia pedir tantas coisas, riqueza, amor, poder, mas havia apenas um desejo gravado na sua alma, uma ferida aberta que nunca cicatrizara. "Quero ver a minha mãe outra vez." O vento soprou com uma força desumana, apagando a vela num sussurro de sombras. As flores murcharam num instante, estalando como vidro partido. A sala foi engolida pela escuridão e o livro aqueceu até queimar as suas mãos. Soltou um grito, mas a dor desvaneceu-se quando uma luz fantasmagórica se ergueu diante dela. E então, ali estava. A figura delicada da sua mãe, os olhos marejados de saudade, um sorriso que escondia a dor de um tempo roubado. As lágrimas de Helena caíram descontroladas. "Mãe…", sussurrou. Tentou tocar-lhe, mas sentiu apenas o vazio frio do ar. A mãe esboçou um último olhar, os seus contornos já a desvanecerem-se como fumo levado pelo vento. "O tempo é breve", sussurrou ela e a sua voz ecoou como um lamento perdido no espaço entre os vivos e os mortos. Helena gritou, tentou agarrá-la, mas tudo desapareceu num instante. O livro caiu no chão, inerte, as páginas agora em branco, como se nunca tivessem contido magia alguma. A vela reacendeu-se sozinha, lançando sombras dançantes contra a parede. Restavam apenas as flores caídas, frágeis e quebradas, como testemunhas silenciosas de um desejo concedido… e perdido para sempre.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Portugal no Guiness com a maior bandeira humana...

PORTUGUESE FEMALE POWER On 20 May 2006 we had the pleasure of spending 48 hours in Portugal adjudicating an attempt on the Guinness World Record for the Largest Human National Flag. The record to beat was set in Scotland earlier this year when 13,254 fans formed the Saltire, the Scottish national flag, at a Scotland v France Six-Nations game at Murrayfield Rugby Club. Held at Lisbon's national stadium, the event was organized by a company called Realizar who had plenty of experience having organized seven other successful Guinness World Records attempts. These include the Largest Hockey Stick, a staggering 56 ft 7 in ( 17.25 m) long, the Largest Human Logo made up of 34,000 people (part of Portugal's successful bid to host the Euro 2004 soccer championships) and the Largest Football with a whopping diameter of 19 ft 10 in (6.06 m)! But the focus this time was once again on mass participation. The record attempt was part of a larger celebration organized by Banco Espirito Santo,...