“...mas pra que a gente acorde é fundamental sonhar...” ( Alice Ruiz)
Os sonhos têm pupilas dilatadas, cílios longos e a íris colorida sempre pintando a realidade com tons mais vibrantes!
Basta o silêncio e ele vem como uma música, orquestrando as histórias guardadas, interrompidas, mas jamais esquecidas.
Eu tenho sorrisos estampados no vestido e nos meus olhos, um mar aberto, pronta para viajar, porque a vida é um milagre!
O tudo e o nada caminham de mãos dadas. Tudo pode acontecer no intervalo entre as duas notas, é como se fosse o nascimento e a morte, e bem no meio, a vida!
Sim, porque não basta nascer para se estar vivo. É preciso mais que isto, mais que um coração a bater, é preciso ter a alma a pulsar e um guerreiro sempre pronto para a travessia.
No espaço entre essas duas notas pode caber uma sinfonia, para quem traz nas mãos a batuta do sonho!
Delirar é preciso, neste sobreviver impreciso.
Ainda que me roubem horizontes, reinvento outros. Acendendo o sol na escuridão mais profunda do mar, que sou eu mesma. E o oceano, enfim, vira uma grande lamparina a clarear os sertões da alma!
Tenho reservas de água, líquida e cristalina, cristais de luz que algumas sombras tentam furtar-me. Mas sempre escapo, escorrendo por entre as fendas, essas pequenas fissuras que atravessam a realidade e tornam a vida possível, despressurizando o insuportável dos dias.
Esse intervalo não é uma pausa, pelo o contrário, é cheio de música!
É quando saímos de cima do muro, cansados de esperar por respostas.
A resposta só eu mesma posso me dar, ela está em mim, no durante.
Eu sou a ecoante pergunta e a misteriosa resposta.
O início, o fim e o meio. Falta-me, talvez, a coragem.
Então, as fendas me arrastam em suas correntezas, e de surpresa, me dizem para ir!
E, sem tempo pra pensar, eu vou, pois só a surpresa, só o estranho pode devolver-me as manhãs fresquinhas com gostinho de morangos em calda!
E eu quero lambuzar-me inteira, desse presente que a vida me dá, de repente!
Não desperdiço nada, já bastam os desperdícios no mundo, tanta escassez de tudo!
E a gente pensando em presentes de Natal e no consumismo que nos consume os nervos e o coração.
Até mesmo o amor, que deveria ser o maior presente, todos os dias, tornou-se uma ameaça, pois não queremos perder o controle, o poder e amar nos torna vulneráveis.
Amar é bicho perigoso, nessa Atlântida que os homens construíram, é uma ameaça à manutenção de suas geleiras, pois o amor é incandescente!
Enquanto o colocamos em cubos de gelo, a indiferença aquece as esquinas das cidades, onde a fome escancara um sorriso sem dentes e a gente preparando banquetes para celebrar o nascimento de Cristo, símbolo de fraternidade.
Contraditório demais tudo isso. Não observamos que as pessoas mais felizes não têm as melhores coisas, mas fazem com o que possuem uma grande festa, uma celebração!
Não quero receber nada, quero, apenas, me ofertar inteira, ao menos enquanto durar esse pequeno intervalo, onde cabe a eternidade.
A eternidade acontece, quando não temos compromisso com o tempo.
Mas os relógios dos homens tentam controlar os destinos, marcando horários para tudo.
Dormimos pouco, talvez para que sonhemos menos.
Contudo, para quem tem a batuta nas mãos, o sonho torna-se real a cada movimento, a cada nota que vai compondo a melodia dos dias.
Sonho com olhos bem abertos! Acho que é por isso que me dizem que eles sempre parecem estar a contar algo, olhos que saltam no escuro das coisas, pois sabem que no fundo de tudo existe a luz.
Até mesmo no fundo da alma do pior algoz, há uma dor que o fragiliza em algum ponto.
Ser humano é ser o herói e o carrasco de si mesmo, a luz e a escuridão, o começo e o fim.
Contudo, o ‘ás’ desse jogo está no meio, na metamorfose.
Entre a crisálida e a borboleta está o segredo para os futuros voos.
Acordar é preciso, mas esse despertar é mais que abrir os olhos, é ter uma fé inabalável em si mesmo e sonhos nas pontas dos dedos.
Mãos em movimento, verbos de acção e ligação que nos conduz, passos incansáveis em direcção ao infinito, porque nem o céu é o limite para quem não desiste da velha mania de sonhar.
Em essência, somos alma que são encantamentos, nunca terminam, atravessam o espaço e constroem pontes sem ao menos se tocar, porém são capazes de sentir cheiros e gostos das coisas à distância, até mesmo amar, pois o amor acontece no etéreo.
Puro mistério, amor é surpresa!
O ser humano é um milagre, é uma promessa e promessas não cumpridas machucam. Não posso desistir.
Farei tentáculos dos meus sentidos e agarrarei a vida luminosa no fundo da escuridão do mar.
Mergulharei no espelho, até que desapareça a imagem e descobrirei que, por dentro, tenho o sertão, mas, também, a água, sempre em movimento, que é a alma. Se tentarmos represá-la, os tsunamis acontecerão, dentro de nós.
Então, pinto os olhos do medo de azul da cor do mar, prontos para a onda que pintar! Contudo, o meio, onde são guardados os segredos, será pintado de vermelho: vida e revolução, desejos à flor dos ventos que sopram os encontros, atracção dos corpos e almas, que carregam na palma da mão o destino, esse fio misterioso que nos puxa pra lá e pra cá, até alinhar os caminhos.
Enlouquecer é preciso, 'inflamar pode ser mais que durar'!
Às vezes, só o precipício nos pode salvar, sem nos dar tempo para arrumar as malas, pois, por segundos, poderíamos desistir de pular, poderíamos perder a viagem...
E pra quê bagagem, se tudo que precisamos é coragem?
(Raiblue)
Dezembro de 2008
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