O sol punha-se devagar, tingindo a areia de laranja melancólico. Ela caminhava sozinha, descalça, sentindo o sal secar-lhe os tornozelos. O vento puxava-lhe os cabelos como dedos de um amor antigo. O cheiro acre do mar preenchia-lhe o peito com memórias. Foi então que a viu, uma garrafa, semi enterrada, com um papel enrolado no ventre de vidro. Curvou-se devagar, quase em cerimónia e retirou-a com cuidado. Tinha as mãos frias, mas o coração começava a arder. A rolha cedeu com um estalido húmido. Com dedos trémulos, libertou a mensagem. «Amo-te. Ainda te espero. Estou aqui.» Assinava com um nome que lhe era tão íntimo como o sangue. Pedro. Há sete anos, ele desaparecera sem aviso. Diziam que partira para o mar, que era da sua natureza fugir quando o mundo se tornava estreito. Ela nunca acreditara no abandono. Mas o silêncio era um inimigo cruel. Guardara-lhe o casaco. Dormia, às vezes, com ele ao colo. E sonhava com passos na areia molhada, com uma voz a chamá-la do nevoeiro...
O que ouvi, o que senti, o que fiz
e o que despertou a minha curiosidade...