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Mensagens

Quando o Mar Devolveu o Silêncio

O sol punha-se devagar, tingindo a areia de laranja melancólico. Ela caminhava sozinha, descalça, sentindo o sal secar-lhe os tornozelos. O vento puxava-lhe os cabelos como dedos de um amor antigo. O cheiro acre do mar preenchia-lhe o peito com memórias. Foi então que a viu, uma garrafa, semi enterrada, com um papel enrolado no ventre de vidro. Curvou-se devagar, quase em cerimónia e retirou-a com cuidado. Tinha as mãos frias, mas o coração começava a arder. A rolha cedeu com um estalido húmido. Com dedos trémulos, libertou a mensagem. «Amo-te. Ainda te espero. Estou aqui.» Assinava com um nome que lhe era tão íntimo como o sangue. Pedro. Há sete anos, ele desaparecera sem aviso. Diziam que partira para o mar, que era da sua natureza fugir quando o mundo se tornava estreito. Ela nunca acreditara no abandono. Mas o silêncio era um inimigo cruel. Guardara-lhe o casaco. Dormia, às vezes, com ele ao colo. E sonhava com passos na areia molhada, com uma voz a chamá-la do nevoeiro...

O Silêncio Depois do Terramoto

     O ramo de alecrim pendia da janela do quarto, preso com fio de sisal. O cheiro morno e áspero impregnava nos lençóis, no cabelo de Madalena e nas dobras do silêncio.      Ela descansava na cama sem almofada, a cabeça virada para o tecto rachado. Uma das fissuras alargava-se todos os dias, como se a casa estivesse a chorar por dentro. O verão castigava as paredes com o seu bafo estagnado. Desde o terramoto , Madalena vivia num tempo gasto. As manhãs vinham sem urgência. Já não fazia o café como antes, com a colher de madeira que ele esculpira no último Natal. E não punha o rádio a tocar fado baixo enquanto aquecia o pão. Agora, era só o silêncio.      Manuel tinha mãos grandes. Limpava os vidros aos domingos. Dizia que a luz devia entrar sem obstáculos. Ria pouco, mas os olhos franzidos diziam mais do que mil palavras. Tinha esse jeito de estar calado com sentido.      O alecrim era uma ternura secreta entre os dois. Ele ...

A humanidade agradecerá...

“Tu podes ter falhas, ficar ansioso e às vezes irritado, mas não te esqueças de que a tua vida é o maior empreendimento do mundo. Só tu podes evitar que ela entre em declínio. Há muitos que te apreciam, te admiram e te amam. E não sabes, mas existem pessoas para quem és especial. Gostaria que te lembrasses que ser feliz não é ter um céu sem tempestades, uma caminhada sem acidentes, um trabalho sem cansaço, relacionamentos pessoais sem decepções. Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança na caixa do medo, amor nas divergências. Ser feliz não é só valorizar o sorriso, mas também refletir sobre a tristeza. Não se trata apenas de comemorar o sucesso, mas de aprender lições com os fracassos. Não é apenas alegrar-se com os aplausos, mas alegrar-se no anonimato. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, tristezas, incompreensões e períodos de crise emocional e económica.  Ser feliz não é uma...

36 palavras

"Um poema de que não me lembro"   As palavras dançam na borda da memória, sombras de um verso perdido.  Sinto-lhe o ritmo, o sabor, a ausência que queima.  Quase o toco, quase o digo.  Mas dissolve-se no silêncio, deixando somente um vazio que ecoa.    "Coisas em forma de virgula" As folhas caem, curvando-se como vírgulas no vento, suspendendo histórias inacabadas.  O tempo passa, mas os gestos continuam, interrompendo o discurso da vida.  Pequenos sinais que falam sem palavras, a ponto de quase serem esquecidos.  "Lugar que perdura um tempo antes e desaparece"  O sol se põe, tingindo de ouro a terra que já viu tanto.  Cada passo nas suas ruas é um eco distante, uma memória que insiste em viver.  Mas, como tudo, também vai.  E o que antes foi sólido, agora se dissolve no silêncio, deixando apenas o perfume do que já foi. #36palavras #laritacaramela

À Luz de Camões

  Publicado!

Convite para o Abismo

  A caixa chegou sem aviso, repousando na soleira como se sempre lá tivesse estado. Pequena, de madeira escura, com corda vermelha quase desfeita. Leonor hesitou, uma sensação estranha, quase de déjà vu, dominando-a. Algo nela se agitava, mas a sensação era familiar demais, como uma lembrança que ela tentava fugir. Dentro, um envelope negro com letras douradas: "Para ti, que não esqueceste." Quinta dos Olmos. O nome cortou-lhe a mente como uma lâmina. Algo que ela tentara esquecer, mas que agora surgia com o peso de um pacto antigo. O convite não era apenas um chamado. Chegou à quinta ao entardecer, o portão rangendo como uma advertência. O cheiro a madeira podre e fumo de algo queimado preenchia o ar. A casa erguia-se diante dela, observando-a em silêncio. Dentro, o ar parecia vivo, espesso, como se a própria casa estivesse à espera. "Leonor", a voz do tio, ecoou. Ela reconheceu-o imediatamente, mas o sorriso estava vazio e frio. Ao lado dele, a tia, com o...

Liberdade

 

Na TV

Olhos presos à luz trémula, rostos imóveis na penumbra. Mãos pousam sem peso, o copo balança, intocado. Vozes estalam, promessas caem, cenas mudam, nada se move. O mundo arde lá fora. E ninguém desvia o olhar. 36 palavras sobre Na TV #36Palavras #laritacaramela  

Vozes Entre Mundos

Maria sonhava em francês, chorava em inglês, amava em português.  As frases misturavam-se na boca, um mosaico de sons.  "És de onde?" perguntavam. Silêncio.  No espelho, via-se inteira. Não era metades, era de todas. 36 palavras sobre aqueles que falam e escrevem em mais do que uma língua #36Palavras #laritacaramela