autobiografia do indiano, “A Long Way Home”. No livro, ele conta como, aos cinco anos de idade, foi separado acidentalmente do irmão, na cidade em que morava, no interior da Índia e foi parar, “sem pai, nem mãe”, na longínqua e caótica Calcutá. Lá, depois de comer o pão que o diabo amassou (ou simplesmente não comer), acabou num orfanato e teve a sorte de ser adotado por uma família da Tasmânia, ilha da Austrália. Vinte e cinco anos depois, Saroo é atormentado por um passado do qual mal se lembra. E resolve ter com a família biológica novamente (“não há um dia sequer que meu irmão não chame o meu nome”, ele supõe), com o advento do Google Earth.
O filme se divide em dois. Até Dev Patel assumir como protagonista na vida adulta do personagem, há uma looonga abertura (em torno de 40 minutos), que se propõe a apresentar os percalços pelos quais o pequeno (o expressivo Sunny Pawar, digno de uma indicação ao Oscar) passa quando se vê perdido. O drama é pesado, e não traz nenhuma novidade, necessariamente, em relação ao ambiente de pobreza extrema do país asiático – "denúncia", inclusive, explorada por Hollywood recentemente, com o mesmo Patel no papel principal (Quem Quer Ser um Milionário?)
Ao ingressar na faculdade e ter contato com outros descendentes de indianos é que a pulga é plantada atrás da orelha morena de Saroo – o que é um bom gancho, afinal, em tese, ele não teria porque se incomodar com a situação, uma vez que a sua inserção no seio da nova família se dá da melhor forma possível (ao contrário do irmão, também adotado, um contraponto que sobra, mal conduzido pela produção). É aí que ele começa a montar um esquema de cálculos, planilhas, mapas e visitas ao serviço ao serviço do Google.
Estigmatizado como estrangeiro na indústria americana do cinema, o ator pelo menos não precisa forçar o sotaque no filme – e, no fim das contas, convence. (A grande surpresa é descobrir que Rooney Mara, que não foge de um registro dramático, consegue sorrir – e até dançar!)
Tanto ao retratar a infância quanto a vida adulta, o filme traz uma repetição de ações que prejudicam a narrativa – subestimam a inteligência do espectador depois da enésima vez em que Saroo gira o globo na tela do computador (ok, já tínhamos entendido). Além disso, a apresentação cronológica não deixa lacunas, nenhum espaço para a imaginação da plateia. E, claro, usada de forma onipresente, a trilha tem um potencial enorme para irritar.
Apesar de todo excesso, Lion trata-se – e os corações insensíveis precisam dar uma licença aqui – do que pode ser chamado de uma verdadeira história “de cinema”, que a direção de Garth Davis aproveita da melhor maneira que pôde, com momentos de delicadeza e poéticos, até, ajudado (e muito) bela fotografia de Greig Fraser (A Hora Mais Escura) – que explora planos aéreos tanto da Índia quanto da ilha australiana. Os Weinstein estão reaprendendo a usar os algoritmos da corrida do Oscar.
O filme se divide em dois. Até Dev Patel assumir como protagonista na vida adulta do personagem, há uma looonga abertura (em torno de 40 minutos), que se propõe a apresentar os percalços pelos quais o pequeno (o expressivo Sunny Pawar, digno de uma indicação ao Oscar) passa quando se vê perdido. O drama é pesado, e não traz nenhuma novidade, necessariamente, em relação ao ambiente de pobreza extrema do país asiático – "denúncia", inclusive, explorada por Hollywood recentemente, com o mesmo Patel no papel principal (Quem Quer Ser um Milionário?)
Ao ingressar na faculdade e ter contato com outros descendentes de indianos é que a pulga é plantada atrás da orelha morena de Saroo – o que é um bom gancho, afinal, em tese, ele não teria porque se incomodar com a situação, uma vez que a sua inserção no seio da nova família se dá da melhor forma possível (ao contrário do irmão, também adotado, um contraponto que sobra, mal conduzido pela produção). É aí que ele começa a montar um esquema de cálculos, planilhas, mapas e visitas ao serviço ao serviço do Google.
Estigmatizado como estrangeiro na indústria americana do cinema, o ator pelo menos não precisa forçar o sotaque no filme – e, no fim das contas, convence. (A grande surpresa é descobrir que Rooney Mara, que não foge de um registro dramático, consegue sorrir – e até dançar!)
Tanto ao retratar a infância quanto a vida adulta, o filme traz uma repetição de ações que prejudicam a narrativa – subestimam a inteligência do espectador depois da enésima vez em que Saroo gira o globo na tela do computador (ok, já tínhamos entendido). Além disso, a apresentação cronológica não deixa lacunas, nenhum espaço para a imaginação da plateia. E, claro, usada de forma onipresente, a trilha tem um potencial enorme para irritar.
Apesar de todo excesso, Lion trata-se – e os corações insensíveis precisam dar uma licença aqui – do que pode ser chamado de uma verdadeira história “de cinema”, que a direção de Garth Davis aproveita da melhor maneira que pôde, com momentos de delicadeza e poéticos, até, ajudado (e muito) bela fotografia de Greig Fraser (A Hora Mais Escura) – que explora planos aéreos tanto da Índia quanto da ilha australiana. Os Weinstein estão reaprendendo a usar os algoritmos da corrida do Oscar.
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