domingo, 30 de outubro de 2016

Travar para pensar*

'Experimente ir de Copenhaga a Estocolmo de comboio. Comprado o
bilhete, dá  consigo num comboio que só se diferencia dos nossos Alfa
por ser menos luxuoso e dotado de menos serviços de apoio aos
passageiros.
A viagem, através de florestas geladas e planícies brancas a perder
de vista, demorou cerca de cinco horas.
Não fora conhecer a realidade económica e social desses países, daria
comigo a pensar que os nórdicos, emblemas únicos dos superavites
orçamentais seriam mesmo uns tontos.
Se não os conhecesse bem perguntaria onde gastam eles os abundantes
recursos resultantes da substantiva criação de riqueza
A resposta está na excelência das suas escolas, na qualidade do seu
Ensino Superior, nos seus museus e escolas de arte, nas creches e
jardins-de-infância em cada esquina, nas políticas pró-activas de
apoio à terceira idade.
Percebe-se bem porque não construíram estádios de futebol
desnecessários,porque não constroem aeroportos em cima de pântanos,
nem optam por ter comboios supersónicos que só agradam a meia dúzia de
multinacionais.
O TGV é um transporte adaptado a países de dimensão continental,
extensos,onde o comboio rápido é, numa perspectiva de tempo de
viagem/custo por passageiro, competitivo com o transporte aéreo.
É por isso, para além da já referida pressão de certos grupos que
fornecem essas tecnologias, que existe TGV em França ou Espanha (com
pequenas extensões a países vizinhos). É por razões de sensatez que
não o encontramos na Noruega, na Suécia, na Holanda e em muitos outros
países ricos.
Tirar 20 ou 30 minutos ao Lisboa-Porto à custa de um investimento de
cerca de 7,5 mil milhões de euros não trará qualquer benefício à
economia do País.
Para além de que, dado hoje ser um projecto praticamente não
financiado pela União Europeia, ser um presente envenenado para várias
gerações de portugueses que, com mais ou menos engenharia financeira,
o vão ter de pagar.
Com 7,5 mil milhões de euros podem construir-se mil escolas Básicas e
Secundárias de primeiríssimo mundo que substituam as mais de cinco mil
obsoletas e subdimensionadas existentes (a 2,5 milhões de euros cada
uma),
mais mil creches inexistentes (a 1 milhão de euros cada uma), mais mil
centros de dia para os nossos idosos (a 1 milhão de euros cada um).
Ainda sobrariam cerca de 3,5 mil milhões de euros para aplicar em
muitas outras carências, como a urgente reabilitação de toda a
degradada rede viária secundária.
Cabe ao Governo reflectir.
Cabe à Oposição contrapor.
Cabe-lhe a si reencaminhar esta mensagem ou deixar ficar.'

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