O Sítio |
Carta Militar de Portugal, escala 1:25000, fl. 322 Coordenadas: Latitude: 39º29'46''N (39.4962) Longitude: 7º57'27''W (-7.9576) Distrito: Portalegre Concelho: Gavião Freguesia: Belver
O Castelo de Belver ergue-se na vertente sul de um cabeço granítico em cotas da ordem dos 229 m. As suas encostas sul e oeste apresentam uma inclinação acentuada, o que lhes confere uma certa defensibilidade natural. O acesso ao castelo é feito pela encosta nascente. Encontramos o castelo, a 500 m da vila com o mesmo nome e a 4,5 km para noroeste da vila de Gavião, a cavaleiro da margem direita do Rio Tejo. A 500 m deste Castelo encontramos a confluência da Ribeira de Belver com aquele rio. Esta situação confere um excelente comando sobre a rede fluvial do médio Tejo. Esta localização revelou-se de grande importância estratégica no controlo e vigilância da travessia do Tejo talvez já desde a época romana, acentuando-se no período da reconquista cristão e da 1ª dinastia, em que a defesa da Linha do Tejo era uma necessidade absoluta. Por aqui passava uma via, com origem romana, com travessia do rio por uma ponte (já desaparecida), que ligava Mérida à Guarda e dava também serventia à ligação entre Mérida e Conímbriga. Estrategicamente construído, sobranceiro ao Tejo, dominando a paisagem, é facilmente defensável pelas encostas sul e oeste devido à inclinação acentuada e características rochosas do terreno. O acesso ao Castelo é feito pela encosta nascente onde se formou a vila de Belver.
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Os Acontecimentos |
Não é conhecida uma presença mais antiga que o período medieval, séc. XII, para o Castelo de Belver. João de Almeida, em 1948, sugere-nos que onde hoje se ergue o castelo de Belver teria havido um castro lusitano e que após a conquista romana, ali teria sido erguido no séc. I a. C uma fortificação destruída pelos Vândalos em 411. Tais afirmações não podem ser, neste momento confirmadas, uma vez que não existem evidências arqueológicas que atestem a sua veracidade. Apenas uma investigação arqueológica poderá clarificar esse passado remoto do Castelo de Belver. São, contudo, conhecidos no território da freguesia elementos do Neolítico (monumentos megalíticos) e ainda de vários achados atribuíveis à época romana (como a Quinta do Ribeiro de Nata). Em 1194, com a doação das terras de Guindinstesta à Ordem Militar dos Hospitalários de São João de Jerusalém, por D. Sancho I, são dadas indicações para a construção de um castelo a que se chamará de Belver. Este estaria operacional em 1212 sendo um dos mais importantes locais da referida Ordem. A importância de Belver assume-se durante esta fase da Reconquista, em que o Tejo separa os reinos cristãos dos muçulmanos, assumindo-se como fronteira, mas também como linha de defesa. À Ordem do Hospital foi dada a tarefa de defesa e povoamento da região, procurando desta forma consolidar a possessão dos novos territórios. Terá sido essa a génese da vila de Belver, que nasce a nascente e sobre a protecção do seu castelo. Antes da ainda da conclusão da sua construção, em 1210, D. Sancho I, em testamento, deixa à guarda do Prior da Ordem do Hospital, no Castelo de Belver, uma parte importante do tesouro constituído por 500.000 maravedis de ouro e 1.400 marcos de prata destinados aquela ordem, demonstrando assim que o Castelo já estaria numa fase quase imediata de conclusão. Após a definição das fronteiras, que genericamente consideramos após 1297, com o Tratado de Alcanizes, e com a conquista do Algarve, o castelo de Belver vê a sua função inicial diminuída, tendo perdido alguma da sua importância. No contexto da crise política de 1383-85, e das sequentes guerras com Castela o Tejo como linha de defesa volta a ter a sua importância, e com ele o Castelo de Belver. Esta renascida importância está patente nas obras de ampliação e melhoramento executadas no Castelo por ordem do Condestável D. Nuno Álvares Pereira em 1390. Após a paz com Castela em 1411 o castelo e toda a linha de defesa do Tejo voltam, novamente, a perder importância estratégica. Ainda no séc. XV, Belver é palco de confrontos que envolvem partidários da Rainha viúva D. Leonor contra as tropas do Regente D. Pedro, sendo que, nesta ocasião, Belver tomara partido pela Rainha, enfrentando o cerco imposto por D. Lopo de Almeida às ordens de D. Pedro. Durante o séc. XVI o castelo terá servido de presídio para Luís de Camões mas também como residência nobre para a princesa Santa Joana que, neste castelo de Belver, terá vivido alguns anos. Já na segunda metade do séc. XVI, o príncipe D. Luís, filho de D. Manuel I , terá mandado construir a capela de S. Brás no interior do recinto do castelo. Em 1580 o povo e o alcaide de Belver opõem-se ao poder Filipino tomando partido por D. António, Prior do Crato. A partir do final do séc. XVI, o Castelo de Belver não foi adaptado às novas formas de fazer guerra, com o recurso à pirobalística resultando em novos traçados de fortificação. Foi progressivamente votado ao esquecimento, em parte pela inadequação da sua planta medieval à nova fortificação e porque o seu valor estratégico não era suficiente numa península unida. No séc. XVIII, em 1755, o grande terramoto danificou gravemente o castelo que permanecerá em estado de abandono e esquecimento até ao séc. XIX altura em que o seu perímetro será utilizado como cemitério da vila. Em 1909 a terra volta a tremer e este novo sismo agrava mais o seu estado de ruína. Assim permanecerá até às campanhas de restauro efectuadas na década de 40 do séc. XX pela Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais. Actualmente o castelo está abrangido pelo Programa de Recuperação de Castelos promovido pelo IPPAR.
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O Desenho |
Embora não tendo notícia de representações antigas da planta do Castelo, alguns trabalhos de investigação desenvolvidos no perímetro fortificado permitem-nos considerar este castelo como um dos mais imponentes construídos pela Ordem dos Hospitalários em Portugal. Na sua construção encontramos elementos característicos da Ordem, como por exemplo a torre de menagem não maciça, mas com masmorra no seu piso térreo (como acontece também no Castelo da Amieira do Tejo) e o acesso à porta principal do castelo protegido por um cotovelo e a porta ladeada por poderosas torres, a sul. Algumas características testemunham a vivência da Ordem no mediterrâneo e Próximo Oriente, que daqui trouxeram soluções arquitectónicas militares e incorporaram-nas nas suas edificações. O Castelo de Belver está perfeitamente adaptado às condicionantes do terreno, resultando na sua planta irregular, com uma forma ovalada. As muralhas apresentavam ameias e a torre de menagem, de planta rectangular está isolada no centro do perímetro. Estaria unida ao adarve da muralha por uma passadiço hoje desmantelado. A porta da traição encontra-se discretamente dissimulada na banda poente da muralha por um torreão semicircular e por um ressalto da própria muralha cujo acesso exterior é naturalmente protegido pela íngreme e pedregosa encosta. No lado oeste do perímetro encontramos também a cisterna de duas bocas redondas. A sul, fronteiro à porta principal do castelo, encontramos as ruínas dos edifícios da alcaidaria e da guarnição. O castelo, apesar de algumas modificações ao longo dos séculos, manteve praticamente intacta a sua primitiva estrutura, considerando-se uma das mais representativas da fase românica da arquitectura militar no nosso país. Das campanhas de restauro e fortificação promovidas por D. Nuno Álvares Pereira, no final do séc. XIV, temos na cisterna de duas bocas a maior evidência. Podemos considerar que terão ocorrido algumas alterações na estrutura fortificada, mas nesta fase da investigação não existem dados suficientes para com clareza os identificarmos. Do século XV, é a porta de entrada, com arco de volta redonda. O papel de Belver na Guerra da Restauração está ainda por descobrir. Na sua planta actual não temos praticamente vestígios de intervenções nesta altura, com excepção de uma pequena obra exterior, adossada à muralha oeste, batendo o rio. Há notícias de que o Eng.º holandês Cosmander pudesse ter feito aqui uma intervenção, no âmbito das suas competências enquanto inspector das praças alentejanas. O que está hoje visível em Belver é resultado das campanhas da década de 40 do séc. XX. Dentro do perímetro fortificado, a norte, podemos encontrar ainda a Capela de S. Brás datada do séc. XVI, exemplar da arquitectura renascentista, com elementos de traça maneirista que inclui um belo retábulo-mor de influência italiana.
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Traços de Identidade |
Este castelo é o primeiro construído na íntegra pelos Hospitalários em Portugal e é, ainda hoje, um magnifico exemplar da arquitectura militar românica da baixa Idade Média. Foi declarado Monumento Nacional em 1910 (16-06-1910, Diário do Governo n.º136, de 23-06-1910), foi ainda decretado uma ZEP (zona especial de protecção) regulamentada no Diário do Governo (II Série), n.º 74, de 31-03-1947. Serenamente imponente, altaneiro sobre o Tejo, domina a paisagem circundante sulcada pelo vale do Tejo a Sul e pelo vale da Ribeira de Belver, a oeste na sua confluência com aquele rio. Contrariamente às práticas de construção da época, em castelos estratégicos, cujas torres de menagem eram habitualmente maciças até à altura do adarve, em Belver encontramos uma torre de menagem não maciça e com masmorra no piso térreo, Característica introduzida pelos Hospitalários. A importância estratégica deste castelo está associada à importância de defesa da linha do Tejo. Assim que esta se consolidou, este castelo perde gradualmente a sua relevância militar, recuperando-a ocasionalmente quando o Tejo se transforma em potencial espaço de contenda. As belas vistas que se apreciam do cimo das suas muralhas terão provavelmente inspirado o nascimento da lenda que associa o nome do castelo à exclamação proferida por uma bela princesa ao ver tal paisagem, “Oh meu pai, que belo ver!”. No entanto sabemos hoje que o nome de Belver foi imposto pelo próprio rei D. Sancho I quando confiou aquelas terras à Ordem Militar do Hospital e patente no próprio documento da doação. A importância deste Castelo de Belver no séc. XIII é comprovada pelo facto de ser um dos seis lugares do reino onde se guardava o Tesouro Real. Olhando para sul, para a outra margem do rio, onde outrora espreitava o perigo mouro, compreende-se como foi importante o olhar atento deste castelo para a defesa e consolidação da nacionalidade.
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Cronologia do Monumento |
Primeira ocupação militar do local desconhecida; apesar de conhecida e confirmada por vestígios arqueológicos a ocupação Romana da região de Belver, não existem ainda dados suficientes para o sítio do castelo; 1184 – Reconquista definitiva liderada por D. Sancho, (futuro D. Sancho I) ainda no reinado de D. Afonso Henriques; 1194 – Doação do termo de Guindinstesta por D. Sancho I à Ordem Militar dos Hospitalários de São João de Jerusalém, onde se encontra a referência ao castelo de Belver; 1194 – Construção do Castelo de Belver; 1210 – Recebe à sua guarda uma parte do Tesouro Real; 1212 – Conclusão da construção do castelo; 1336 – Belver é uma das comendadorias mais importantes da Ordem do Hospital; Até 1341 – Belver era a localização mais a sul da Ordem do Hospital, altura em que se transferiu para o Crato; 1390 – obras de restauro e fortificação por ordem do Condestável D. Nuno Álvares Pereira; 1440 – Confrontos entre partidários da Rainha viúva D.ª Leonor e as tropas do Regente D. Pedro que cercam a vila e o castelo; 1518 – A vila de Belver recebe Carta de Foral de D. Manuel I; 1553 – Prisão de Luís de Camões no Castelo de Belver; 1580 – Resistência ao domínio Filipino tomando partido por D. António, Prior do Crato; 1642 – Notícia de uma provável intervenção de João Cosmander; 1755 – Gravemente danificado pelo terramoto; 1846 – Inicio da utilização do recinto do castelo como cemitério; 1909 – Danificado por outro sismo; 1910 – Declarado Monumento Nacional (16-06-1910, Diário do Governo n.º 136, de 23-06-1910); Séc. XX – Nos anos 40 tem lugar uma campanha de restauro integral levada a cabo pela DGEMN; 1947 – Classificado como Zona Especial de Protecção; Diário do Governo (II Série), n.º 74, de 31-03-1947; 2005 – o castelo de Belver é integrado no “Programa de Recuperação de Castelos”, sob a alçada do IPPAR, com obras de recuperação que ainda decorrem.
A praia fluvial da Quinta do Alamal é um daqueles lugares concebidos pela magia da Mãe Natureza. As águas do Tejo encontram neste recanto, um abrigo, um lugar de descanso na sua caminhada para o mar. O extenso areal da praia é bordejado por arvoredo, frondoso, as madressilvas enleiam-se pelos medronheiros carregados de frutos vermelhos, os cheiros doces dos botões de ouro, da murta, dos lírios selvagens, espalham-se pelos ares na orvalhada das manhãs, os amieiros, os freixos os salgueiros, espelham-se nas águas límpidas do rio. A paz reina, e no silêncio do lugar, só se ouve o sussurrar das águas que correm nos regatos que serpenteiam os socalcos de pedra seca da velha Quinta do Alamal. A praia do Alamal, é um lugar que conta um tempo antigo, um tempo que corre devagar, um tempo de cores e de cheiros, um tempo de outros tempos. É muito mais que uma Praia, é um espaço singular na sua excelência ambiental, patrimonial e paisagística.
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