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3 de janeiro de 2011

Escolhas que não podemos escolher

É comum ouvirmos que “na vida, há sempre dois caminhos a seguir...”, que “a vida é feita de escolhas”. Certo ou errado, Bem ou Mal, etc.
Deus quis assim e nos deu o livre arbítrio para que pudéssemos decidir entre um ou outro caminho (nunca ‘os dois’). São caminhos que têm prós e contras ‘equivalentes’, aparentemente. E, a partir do momento em que escolhemos por um dos dois, escolhemos também quem caminhará ao nosso lado; ou o Pai ou...

Porém, há situações que nos são surpreendentes, que nos pegam na ‘contramão’, que nos causam profundo impacto. Por vezes, que nos apanham de surpresa, ou nos são colocados debaixo dos pés.
Estas situações, não são ‘de escolha’, como a maioria. São de ‘situações de confiança’. Não são momentos que escolhemos se queremos isto ou aquilo, ou assado ou cozido. Elas somente ‘acontecem’, assim, de forma abrupta e quando tentamos pensar em fazer alguma coisa, nos percebemos que estamos de mãos atadas. É nessas situações, que Deus nos testa a confiança que temos n’Ele.

Mesmo que já tenhamos vivido diversas situações, tomado muitas decisões e sempre seguindo pelo caminho correcto, vemo-nos “sem caminho a seguir”.
É como se estivéssemos numa estrada longa, de diversos terrenos e obstáculos, em que, de vez em quando, defrontamos com bifurcações. Sempre escolhemos o caminho que achávamos correcto. Porém, ainda na mesma estrada, chegamos a um ponto onde não conseguimos ver mais nada, nem à frente, nem de um lado, nem de outro. E então, parámos, pois não há como seguir. Simplesmente não há mais ‘para onde’ seguir. E durante a nossa vida, é assim que nos encontramos, muitas vezes.

Sim, a vida é feita de escolhas, mas, às vezes, são ‘escolhas que nós não podemos escolher’ e por vezes, são escolhas que não queremos ter.
Deus costuma nos apresentar situações inimagináveis, absurdas, inaceitáveis humanamente. Perdemos pessoas que nos pareciam ‘para sempre’ nossas. Perdemos oportunidades pelas quais esperamos a vida toda. Perdemos, enfim, o rumo da vida.

Antes, o caminho, apesar de pedregoso, pelo menos era visível. Neste momento, não é mais. Não sabemos para onde ir.
Só há um lugar para onde se pode ir, quando o mundo desaba em nossas cabeças. Só há um lugar onde nos sentiremos confortados em nossa angústia, aliviado de nossas dores. Só há um lugar onde a vida fará sentido. O chão.
Sim, o chão, de joelhos, com o espírito humilde, admitindo a si mesmo a própria incapacidade de agir em determinada situação. E o mais importante: entregando-a, de vez, nas mãos de Deus.

O chão no qual pisamos, que sujamos, limpamos, é também lugar de descanso. Descanso espiritual. De joelhos no chão são a mais profunda representação de miséria, de humildade, de pobreza. É quando nos colocamos em nosso lugar, de simples homens, criaturas do Criador, servos do Senhor.
Quando não vemos mais o caminho, quando a luz se apaga e a ‘bússola da vida’ falha, então, é hora de seguir. Seguir para o chão e somente confiar. Que a luz se acenda, que a estrada se ilumine novamente, que seus olhos se abram e que o caminho possa voltar a ser ‘caminhado’, novamente.

Mas, para isso é preciso confiar. Ah... E a confiança é tão difícil de ser encontrada nessas horas... Quando na fartura e na alegria ela se encontra ali, do nosso lado, na tristeza e no desespero ela foge, se esconde e só é encontrada lá no fundo da nossa humanidade. Se a situação está fora do nosso controle, se as tentativas já se esvaíram e se nosso caminho está escuro, é hora de confiar. É hora, mais do que todas as horas, de ir para o chão. Despir-se do fútil, das máscaras, das mágoas e tomar a única decisão sensata.

É desses momentos, de cegueira completa, que nascem os grandes homens e as grandes mulheres. Aqueles que souberam tomar o melhor caminho quando não havia mais caminho. Aqueles que souberam confiar no “inconfiável”, crer no inacreditável e tocar no impossível. Enfim, são aqueles que souberam descer ao chão da miséria, para mais adiante, subir ao céu da Glória.
É daí que nasce a força da sobrevivência...

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