terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Outros Natais

Bacalhau, bolo-rei e presentes à meia-noite? Não necessariamente. Saiba como se vive o Natal por esse mundo fora.
Andreia Melo

Um pinheiro enfeitado, família reunida à volta do bacalhau, bolo-rei para sobremesa e troca de presentes lá para a meia-noite. Soa a Natal, não soa? Por cá, sim. Mas pelo mundo fora a história é outra e as tradições também. Ora saiba quais.

Da Lapónia a Portugal há, ao que parece, 1001 maneiras de celebrar esta altura do ano. É que o Natal como nós o entendemos é uma coisa só nossa. Noutros países, é como se o Grinch tivesse passado por lá e roubado o (nosso) Natal. Se não sabia, fica a saber que o dia em que celebramos o nascimento de Jesus foi uma data escolhida pela igreja séculos depois do ocorrido (oficializada pelo Papa Libério no ano 354 d.c.) para coincidir com a data do solstício de Inverno e com o dia do Sol (a Saturnália dos romanos), encobrindo o significado pagão associado a esses dias.

Feriado católico para uns, para outros é só mais uma forma de estar com a família. Até há alguns a quem isto do Natal não diz nada e que fazem a grande celebração pelo Ano Novo (e há quem goste tanto dele que o celebra duas vezes). Para os judeus, já se sabe que não há Natal, há Hanukah. Cada cabeça, sua sentença. E embora seja costume passar esta época em família, as restantes tradições são diferentes nos quatro cantos do mundo.

Traços em comum? Também os há. Até agora, na grande maioria dos países, contam-se dois: a ceia e as histórias que se contam a respeito de um senhor barrigudo e pachorrento que dá pelo nome de “São Nicolau” (Pai Natal, para os amigos). Figura que nasceu nos países nórdicos para celebrar a chegada do Inverno (para o qual se veste a rigor), foi pensada à imagem e semelhança de um bispo turco que viveu no século IV. Acredite-se nele ou não, uma coisa é certa: o espírito natalício anda à solta e a fazer das suas...

Um Natal com mais olhos que barriga

Mesa farta é o que não pode faltar., bem recheada de iguarias típicas. Para esta altura do ano, cada país tem os seus pratos, doces e bebidas características. E se por cá há sempre filhós e a rabanadas à mesa, lá fora os sabores são outros.

Em Espanha, o jantar vai do marisco ao peru. Em França, independentemente do que haja para jantar, há sempre mais um lugar à mesa (pensado para um sem-abrigo) e treze doces à disposição (simbolizando os doze apóstolos mais um: Jesus). E em Itália, tradição que ainda é o que era faz-se com struffoli, biscoitos típicos da região de Nápoles.

Na Bélgica, as gentes sentam-se à mesa com os obrigatórios gofres, um bolo feito com leite, ovos e farinha, cozido em formas que recordam tabletes de chocolate. A poucos quilómetros de distância, na Holanda, para além dos Cânticos (os famosos Christmas Carrols que também acontecem em Inglaterra e Estados Unidos da América), há letras de São Nicolau, massa folhada com claras de ovos a formar letras, palavras e quiçá (dependendo da vontade de quem tiver o avental vestido) frases inteiras. Uma sopa de letras à holandesa que acaba com toda a gente a engolir as palavras...

No Luxemburgo, há kendel para todos os afilhados, com cumprimentos dos padrinhos a quem compete passar de geração em geração esta tradição. Na Finlândia, terra que alberga a aldeia dos duendes, Royaniemi, onde corremos o risco de tropeçar numa fábrica de brinquedos, o Natal tem sabor a tarte de ameixa e na Suécia a peppekaka, corações de massa cozidos no forno. E na Polónia não podem faltar os famosos pastéis de massa tenra com vegetais. Sim, que carne na consoada é coisa que não pode ser.

E se em terras lusitanas, há sempre brindes com vinho do Porto, na Irlanda o que não pode faltar é o irish coffee. Na Alemanha, é a gluhwein, vinho tinto quente com cascas de frutas secas, que aquece as noites mais frias. E não havendo bolo-rei para acompanhar (se já há frutas secas da bebida...), há o bolo de São Nicolau.


No Japão, à semelhança da Rússia e da China, não é o Natal que importa (até porque apenas 1% da população é católica). Nestes países a celebração mais importante é o Ano Novo. Na Rússia até o celebram duas vezes. É o que dá a confusão entre o calendário juliano e o calendário gregoriano... O Natal é a 7 de Janeiro, o ano novo do calendário gregoriano (o nosso) acontece a 31 de Dezembro e o ano novo do calendário juliano a 13 de Janeiro. À ceia come-se ganso ou pato recheado com puré de maçã, galentinas de carne ou de peixe ou “arenque de casaco de peles”. Seja como for, a refeição é sempre coroada com um bolo recheado (aka pirogui). No Japão, o Natal é uma espécie de dia dos namorados mas sem os cartões lamechas. É que a religião católica aqui não tem expressão. Mas há sempre espaço para mais um feriadozinho consumista...

Do outro lado do mundo, os sabores são outros. Na Nova Zelândia, melhor que as tartes e bolos de Natal só as pavlovas, doce típico do país, parecido com as nossas farófias, mas com morangos por cima. E melhor ainda são os barbecues de Natal... Só mesmo aqui.

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