A terra cede sob os pés, branda, aberta,
como se nunca tivesse sido pisada.
O vento estende as mãos invisíveis,
puxa o olhar para o horizonte rasgado,
onde nada existe ainda, mas tudo espera.
Os passos surgem antes do corpo,
desenhando um traço onde não havia forma.
Cada pedra que rola ao lado
é um grão de tempo deslocado,
um aviso de que ir é também deixar.
Os dedos tocam os troncos brutos,
as cicatrizes vivas das árvores antigas,
onde a seiva ainda corre sob a casca dura.
Há uma voz sem som na madeira,
Que sussurra o nome de quem veio antes.
O céu pesa sobre os ombros,
não como um fardo, mas como um chamado.
A poeira sobe dos passos e dissolve-se,
sem pressa, sem regresso, sem promessa.
Cada gesto abre um corte no silêncio,
cada decisão finca raízes na incerteza.
Mas a marcha não se detém,
porque a ausência de caminho
é apenas uma espera por pegadas.
No fim, quando o olhar se volta,
não há vazio, nem dúvidas, nem sombras.
Só a linha esculpida na terra
e o eco dos passos que já não hesitam.
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