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18 de dezembro de 2015

Carta de Portugal à Goa

A alguns filhos e netos de Goa:
Hoje, dia 18 Dez 15, passa-se mais um aniversário em que Goa deixou de ser uma colónia qualquer.

Nesse remoto dia 18 de Dez, Goa acordou cedo, descalçou os  sapatos de salto alto e sentiu nos pés a frescura da terra, despiu-se de roupas, à moda europeia, de cores escuras e tristes, num impulso irresistível de ser ela própria.
Vestiu um sari alegre e descalça, sentou-se no balcão, sempre bela, e ficou expectante, no meio do turbilhão de ideias e imagens que mais uma vez, depois de séculos, a fez sentir insegura.
O futuro dos seus filhos, uns ali em seu redor e  outros tantos espalhados pelo mundo ?
Naquele momento de ansiedade, só precisava de um abraço apertado da sua Mãe.
Será que ela a perdoava?
 
De facto, não sei se a perdoou ou não. Mas há meses atrás, também eu, perdida na estrada sinuosa da vida, tive saudades dela, do seu abraço, e escrevi o poema que envio em anexo e que vos dedico no dia de hoje

Para ti Goa
Fui à tua procura
Sem saber como eras
Sem saber onde estavas

Percorri caminhos desconhecidos
Noites com forma de fantasmas
Fui à tua procura
Atravessei mares revoltos
Ventos de medo
Vi Adamastores engolindo meus companheiros
Mas, eu continuei à tua procura
Para mim, não havia tormentas

Fui à tua procura
Não sei se por desejo de posse do teu corpo 
Não sei se por desejo de posse da tua alma
Procurei-te no infinito dos oceanos
Procurei-te à luz da última estrela brilhante
Procurei-te na miragem de terra firme
E…. Encontrei-te
Desprevenida !

Quis só para mim
Lutei de espada em punho
Matei não sei quantos, nem sei quem
Arranquei-te dos braços dos teus Pais
Afastei-te dos teus Irmãos
Roubei-te à tua Família
Obriguei-te  a converter-te  aos meus Nortes
Foram tempos de paixão

Outros de encanto
Outros ainda de raiva e de perdas
Os nossos Filhos!
Filhos do Sol e da Lua
Filhos de dois mundos tão distantes e tão diferentes
Herdeiros de um património incalculável !
Filhos que cuidaram de mim
Filhos que apregoaram o nosso nome a sete ventos
Filhos que desfraldaram a tua bandeira
Passadas que são as mil e uma noites

Hoje
Nós,  tão distantes e tão diferentes
Mas eles, todos eles, procuram 
o calor do teu abraço
a sombra do teu sari,
os cheiros multicolores do teu corpo
Meu desejo foi perverso, porque impossível
E o que terá ficado desta  Epopeia ?

De P

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