segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Uma «história trágica com sucesso» no Gerês

Uma águia foi ferida duas vezes por caçadores e por duas vezes tratada pelo Parque Nacional da Peneda Gerês. Um caso raro que prova a pressão a que são sujeitas estas espécies, disse o veterinário do Parque, citado pela Lusa.
«A águia, contra todas as expectativas, está viva mas ficará com a capacidade de voo muito afectada. Dificilmente voltará a voar», disse Nuno Santos, o veterinário responsável pelo Centro de Recuperação de Aves do Parque Nacional Peneda Gerês.
A história da águia de asa redonda (Buteo Buteo), identificada com a anilha oficial M030886 e a quem nunca ninguém deu nome, é uma «história trágica com sucesso», referiu o veterinário que tenta novamente ensinar a ave a voar.

Os técnicos do Parque Nacional de Peneda Gerês (PNPG), tomaram pela primeira vez contacto com esta águia no dia 22 de Dezembro de 2007. Recolhida na freguesia de Águas Santas, no concelho da Póvoa de Lanhoso, a ave foi salva por uma moradora que a encontrou, ferida, junto à sua casa, e decidiu entregar a águia à GNR.
A Guarda Nacional Republicana levou-a para os cuidados do veterinário do PNPG e o relatório clínico não foi nada animador. «A águia tinha sido atingida por caçadores com cinco chumbos e a asa esquerda fracturada», recordou Nuno Santos.
Após uma cirurgia ortopédica para a consolidação da fractura óssea, a águia M030886, já curada, foi libertada no dia quatro de Junho de 2008.
«Normalmente, depois de libertadas, não voltamos a ter contacto com as aves apesar de estarem anilhadas e identificadas», frisou o veterinário do PNPG. Mas esta águia voltou.

Foi uma águia frágil e doente que António Jorge Silva encontrou no dia 18 de Outubro de 2008. «Estava na berma da estrada, muito quietinha. Agarrei-a, metia-a na mala do carro e como vi que estava anilhada, entreguei-a na GNR», recordou o mecânico de 32 anos, a construir uma casa em Moure, na Póvoa de Lanhoso.
«Fiquei muito triste quando vi uma águia tão doente. Logo eu que sou benfiquista ferrenho», disse António Jorge Silva.
No segundo internamento, os ferimentos, também provocados por disparos de armas de caça, eram ainda piores que os primeiros. «Tinha nove chumbos no corpo e a asa direita fracturada», disse o veterinário Nuno Santos.

«O facto de a ave ter sobrevivido mais de quatro meses em liberdade faz deste caso um caso de sucesso da recuperação de fauna selvagem. Mas o facto de ter voltado, pelas mesmas razões, comprova a pressão a que estas espécies estão sujeitas por parte de quem comete estas ilegalidades», frisou o técnico.

Mais de um ano após ter sido ferida pela primeira vez, a águia está agora num «túnel de voo», uma estrutura em rede, com 50 metros de comprimento, oito de largura e quatro de altura, a fazer «musculação».
«É neste túnel que vemos se as aves podem ou não ser devolvidas à natureza, mas esta águia ficará a viver em cativeiro», finalizou Nuno Santos.
Em 2007, o Centro de Recuperação de Aves do Parque Nacional Peneda Gerês recolheu 328 animais. 135 foram libertados e 102 acabaram por morrer. 30 foram declarados «irrecuperáveis» e vivem nas instalações do Parque.

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