De noite, o silêncio no hospital era quase absoluto, interrompido pelo som fraco das máquinas que pulsavam ritmadamente, como as batidas de um coração distante. João, de pele pálida, estava sozinho, no fim de um corredor vazio e mal iluminado. Os médicos e enfermeiros tinham desaparecido, e cada tentativa de gritar era abafada pela dor crescente na sua garganta.
Do quarto vizinho, ouviam-se sons. Levou um instante até perceber que se moviam em círculos, num ritmo irregular. Um aperto tomou o peito de João ao entender que não eram passos humanos. Ouvia-se um arrastar lento e denso, como algo viscoso a mover-se.
Ele fechou os olhos, mas a porta rangeu-se e um cheiro forte a mofo e decomposição invadiu o ar. Algo estava ali, à espreita, invisível e intensamente presente, e enquanto o horror se aproximava, sentiu que o seu próprio fim estava perto.
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A figura que se imergiu na penumbra era alta, esquelética, envolta numa aura de trevas que parecia devorar a luz fraca do corredor. O cheiro de decomposição tornou-se insuportável, queimando os sentidos de João. Ele tentou mover-se, mas o corpo parecia preso, como se a própria cama o segurasse.
O arrastar viscoso cessou e um silêncio aterrador tomou conta do quarto. De repente, uma mão fria como gelo pousou no peito de João. Não havia força, mas um peso imenso o dominava, como se estivesse sendo puxado para fora de si. O pulsar das máquinas ficou mais alto, distorcido, misturando-se com um sussurro incompreensível.
João tentou lutar, mas o olhar da criatura, vazio e interminável, encontrou o seu. Tudo congelou. Quando o som cessou, restava apenas a cama vazia. O corredor permaneceu deserto, excepto pelo eco de algo se arrastando, à procura da próxima vítima.
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