Vou escrevendo um conto e a medida que for
dizendo Stop muda de letra do
alfabeto: ABCDE.
A-Atirei o pau ao gato, mas ele não se mexeu.
Apenas fixava no queijo em cima da mesa, com os olhos a brilhar de desejo.
Passava a língua pelos lábios, com vontade de atacar o dito cujo sem perder
tempo. Mas, hesitou. Olhou de relance para o lado e viu o presunto. Queijo ou
presunto? Parecia ponderar como um ladrão indeciso, planeando o próximo roubo.
Os seus olhos arregalados brilhavam de gula, e um fio de baba já lhe escorria
pelo canto da boca.
B-Borboleta cheia de cores voava inquieta,
procurando onde fazer o seu casulo, preparando-se para, curiosamente,
transformar-se... em lagarta. Talvez seja aquela lagarta do País das Maravilhas
que fumava como um Lorde ou Lady.
A menina loira de olhos azuis e vestido branco e
azul surgiu correndo, perseguindo um coelho branco de relógio na mão. Ela caiu
num poço profundo e aterrou num estranho labirinto com muitas portas e uma sala
gigantesca. Lá, uma longa mesa aguardava, cercada de criaturas
peculiares.
C-Coelho branco de cartola e relógio liderava o
banquete. Ao lado, uma zebra de chapéu de palhaço exibia o seu estilo
extravagante. Um caracol gigante com casaco multicolorido pilotava um volante
imaginário, enquanto o elefante Jumbo, com um laço impecável no pescoço, se
ajeitava na cadeira. A abelha, com suas riscas amarelo-pretas, lambuzava-se de
mel sem pudor.
Por fim, um crocodilo com dentes afiados e um
smoking brilhante completava a mesa. No centro da festa, um peru assado, com
uma laranja na boca, que decorava a mesa. Estranho. Animais comendo outro
animal?
D-De repente, do meio das ervas altas, surgiu a
lagarta a fumar um cigarro, seguida do gato, agora com um sorriso peculiar em
forma de queijo redondo e bocados de presunto nos dentes brancos. O
coelho correu para casa em busca de mais cadeiras, garantindo que
todos pudessem desfrutar daquele excêntrico jantar de gala. Com cadeiras
extras, a mesa ficou ainda mais caótica. O gato, com o seu riso, acomodou-se ao
lado do peru assado, observando tudo com aquele ar enigmático de quem sabe mais
do que diz. A lagarta, sempre despreocupada, deu uma longa tragada no cigarro e
declarou:
— Que cena estranha... mas apetitosa. Vamos comer
ou filosofar?
Todos riram, exceto o peru, que permanecia em
silêncio. A zebra ajustou o chapéu de palhaço, no alto da sua cabeça e orelhas
e respondeu:
— Aqui não se come. Aqui se imagina comer.
A abelha, lambendo os dedos melados, levantou a
mão:
— Mas eu comi.
O crocodilo, ajeitando o smoking, lançou um olhar
severo:
— Abelha, não estragues a lógica do jantar.
E-Enquanto isso, a menina Alice, perdida e
confusa, perguntou:
— Mas o que faço aqui? Vocês são reais? A lagarta
riu e soltou uma baforada de fumaça que tomou o ar.
— Real é o que acreditas que é. Este jantar é tão
real quanto o desejo do gato por queijo ou presunto. O gato ronronou, encantado
com a referência. Pegou um pedaço imaginário de queijo e o devorou com
satisfação teatral. No meio da confusão, o coelho branco consultou o seu
relógio e exclamou:
— Estamos atrasados! Precisamos brindar!
Com as taças imaginárias erguidas, todos
brindaram a algo que ninguém nomeou. A menina, ainda confusa, percebeu que o
peru assado havia desaparecido, substituído por um prato vazio. O gato sorriu
largamente, lambendo os bigodes. E assim, entre risadas, a filosofia e um
jantar que não era bem um jantar, todos desapareceram um por um, deixando a
mesa vazia.
A menina esfregou os olhos e viu-se novamente no
jardim, segurando uma folha colada à testa. Ao longe, o gato desaparecia entre
as árvores, com um sorriso de queijo no seu rosto, como se tudo não tivesse
passado de um sonho.