Este ano pareceu passar mais rápido que os
outros, como se os dias extras de um ano bissexto tivessem sido roubados pelo
tempo. Foi um período especialmente desafiador. Completar os cinquenta anos
trouxe não apenas a marca inevitável do tempo, mas também uma clareza
inquietante sobre tudo o que está errado à minha volta, as dores inexplicáveis
que carregamos e os conflitos que surgem do nada, pesando sobre nós como
tempestades inesperadas.
Vejo as famílias desfeitas pela soberba e por
julgamentos implacáveis, onde a cobardia se sobrepõe ao perdão, mesmo entre
aqueles que deveriam saber mais pela experiência de vida. Percebi que muitos
conflitos desnecessários persistem, alimentados pelo silêncio e pela ausência
das palavras certas nos momentos cruciais. Ainda assim, acredito no poder
transformador do perdão. Como diz o provérbio: "O perdão não muda o
passado, mas enriquece o futuro."
Outro pensamento que me acompanhou foi:
"A cobardia veste-se de desculpas e arrependimentos tardios." Quantas
vezes nos deixamos dominar pelo medo, que nos paralisa e impede de estendermos
a mão ou pedirmos desculpa? E a soberba, que transforma pequenos em gigantes
ilusórios, apenas para ser desmascarada pela verdade, é bem capturada pelo
provérbio: "A soberba faz do pequeno um gigante, até que a realidade o
derruba."
Ao refletir, percebo que errar é inevitável,
um traço inquestionável da condição humana. Falhar como cônjuge, pai/mãe ou
filho(a) faz parte da vida. Não temos manual para enfrentar certas situações e
cada um carrega a sua quota de falhas, desde as palavras ditas no calor do
momento até aos silêncios que deveriam ter sido preenchidos por gestos ou
abraços.
Cada erro deixa marcas, algumas visíveis,
outras enterradas no fundo da alma. Contudo, ao olhar para trás, vejo que essas
falhas foram valiosas. Elas moldaram não apenas quem sou, mas também como me
relaciono com aqueles que amo. O que realmente importa não é a perfeição,
mas o valor que damos ao presente. É no agora que reside a possibilidade de
reparar, de cultivar as conexões profundas e genuínas. O passado ensina-nos com
a sua dureza, mas o presente oferece-nos a oportunidade de aplicar essas lições,
amar com mais intenção e estar verdadeiramente presente, não apenas
fisicamente, mas de coração aberto e atento.
Aprender nunca termina. As lições estão em
tudo, no sorriso de um filho, no olhar silencioso de um cônjuge ou até mesmo na
dor de um desentendimento. Cada emoção que sentimos, seja na alegria, na
tristeza, na raiva ou na tranquilidade, carregamos algo a ensinar. É através
dessas experiências que nos moldamos e aprendemos a enxergar o mundo com todas
as suas imperfeições e belezas.
E assim, percebo que o caminho para ser melhor
não é isento de falhas. Pelo contrário, é trilhado ao aceitarmos as nossas
imperfeições, ao pedir desculpas quando necessário e ao recomeçar sempre que
possível. No final, é o esforço contínuo de aprender, crescer e amar que define
quem somos.
Este ano foi marcado por batalhas internas e
tensões que testaram a minha capacidade de compreensão. Foram conflitos
invisíveis, travados dentro de mim, onde as dúvidas, os medos e as incertezas
assumiram formas inesperadas. No entanto, no meio desse turbilhão, encontrei
algo surpreendente, as pequenas mudanças positivas que, embora discretas,
trouxeram um alívio. Cada dificuldade parecia carregar consigo uma semente de
crescimento, uma lição oculta que, aos poucos, começou a florescer.
Com a chegada do Natal, um misto de emoções
tomou conta de mim. As saudades intensas e a tristeza ecoaram como uma melodia
persistente, acompanhadas por um toque de negativismo, como se as sombras das
batalhas passadas ainda pairassem. Mas, entre essas emoções, emergiu algo mais
forte, a vontade de mudar e de viver com paz.
O Natal trouxe consigo um desejo quase urgente
de criar memórias. Não apenas para preencher os álbuns ou as gavetas, mas os
momentos vividos de forma tão plena que o seu impacto perdurasse no tempo.
Talvez seja isso que o Natal simboliza, a capacidade de recomeçar, renovar a
esperança e acreditar que, mesmo após um ano difícil, há sempre espaço para o
amor, a partilha e novos começos.
Dizer que o ano de 2025 é o ano da família pode simbolizar renovação e reconciliação. A família é sempre essencial, e essa importância torna-se ainda mais evidente durante o Natal.
Apesar de sentir que amadureci, a minha
criança interior permanece viva. É essa essência que mantém a esperança acesa,
a certeza de que haverá um momento para dizer tudo o que ainda precisa ser
dito.
Tal com a Analita diz, “A vida é um presente a
desembrulhar, um dia de cada vez”.
Boas Entradas para 2025, que seja sempre
melhor que o anterior.