O céu estava cinzento há dias. O vento uivava incessantemente, batendo contra as portas e janelas como se quisesse entrar, enquanto o país inteiro parecia preso numa tempestade sem fim. As ruas, outrora movimentadas, estavam desertas, tomadas por poças e lençóis de água e detritos arrastados pela força implacável das chuvas. O som das sirenes ecoava de longe e as notícias transmitiam, em tom grave, o rastro de destruição que o mau tempo deixava. E diziam que o pior ainda estava por vir.
Na aldeia de Pedrógão, a chuva transformou o pequeno rio numa corrente furiosa, que invadiu as casas e arrastou o que encontrou pela frente.
Maria, uma mulher de oitenta anos, assistia impotente ao seu jardim a ser engolido pela lama. O lugar onde plantara flores durante décadas estava agora submerso, irreconhecível e com ele, o passado que tanto valorizava.
Na cidade, as luzes intermitentes revelavam o caos – bairros sem eletricidade, a água por todo o lado, autocarros e carros atolados e os ventos fortes levavam telhados como se fossem de papel.
Os hospitais estavam lotados, as equipas de resgate exaustas. O país, de norte a sul, parecia estar de joelhos perante a força incontrolável da natureza.
Enquanto as pessoas se refugiam, à espera por uma trégua e o sentimento de impotência cresce. Nada se podia fazer. O mau tempo assola não só a terra, mas também o coração de um povo que, na esperança de dias melhores, tenta resistir à escuridão.
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