Ontem foi uma tarde perfeita à beira do rio no Montijo, com boa companhia e um céu limpo. Hoje? Um completo desastre. Era uma daquelas manhãs em que parecia que o universo tinha acordado de mau-humor e decidido que eu seria o alvo. Nada me corria bem.
Tentava limpar as folhas da entrada, mas o vento parecia ter outros planos. Cada varrida minha transformava-se numa piada para a tempestade, que insistia em devolver as folhas à porta com uma precisão quase provocadora.
— Estou a varrer ou a dançar salsa? — resmunguei, enquanto o monte de folhas ignorava-me triunfantemente.
Foi nesse momento que Dona Domingas apareceu. A vizinha, envolta num chapéu de chuva extravagante, parecia ter saído diretamente de um filme de época.
— Não sabia que tinha talento para aeróbica na chuva! — gritou ela, entre gargalhadas.
Nem tive tempo de responder. Uma folha rebelde decidiu colar-se à minha testa, como se quisesse marcar território. Para completar o ‘show’, Ginger, o meu gato alaranjado e com a pose de um verdadeiro lorde, decidiu pisar em todas as poças possíveis. Encharcado e indignado, correu para dentro de casa, deixando pegadas pela cozinha.
No auge do caos, entre vento descontrolado e chuva teimosa, senti um estalo. Ai! Caetano! Era como se tivesse um torcicolo na anca. Soltei um grito de dor, larguei a vassoura, que foi parar aos pés do meu companheiro.
— Boa tarde… ou seria bom espetáculo? — disse ele, segurando-me enquanto se esforçava para não rir.
Dei-lhe um sorriso forçado e arrastei-me para dentro, mancando como uma velha. Ginger olhou-me do sofá com o desprezo altivo de quem claramente nunca teve de varrer folhas.
Suspirei, olhei para o céu cinzento e jurei, nunca mais fazer isto durante uma tempestade.
E ali fiquei, no sofá, com dores, a Loira encostada a mim e Ginger satisfeito, ronronando como se fosse o rei do caos. Afinal, ele parecia ser o único a desfrutar do dia.
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