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7 de novembro de 2024

Radar Humano

Ninguém sabia muito bem por quê. Talvez fosse uma questão genética, ou porque a natureza decidira ser criativa naquele dia. Desde sempre, Rita viveu sem orelhas e curiosamente, nunca se importou. 

Na verdade, ela até achava engraçado e fazia piadas sobre isso com naturalidade. "A falta das orelhas é minha superpotência", costumava dizer, sempre com um sorriso na cara, como se tivesse descoberto um segredo do universo.

Enquanto as crianças perguntavam onde haviam ido parar, Rita se divertia, a observar as tentativas engraçadas dos seus amigos de adivinhar o motivo. "Será que foi feita por alienígenas? Ou será que foi a um salão de beleza onde tiraram as orelhas para dar aquele acabamento especial?", brincavam. 

Ria tanto dessas suposições que chegava a ter um acesso de gargalhadas incontroláveis. “Quem sabe? Só sei que não tenho que me preocupar com a falta de protetor auricular numa ventania!”, dizia. Dando uma risada contagiante que fazia todos caírem na gargalhada também.

Mas, havia momentos em que a ausência de orelhas não era tão vantajosa. Quando estava na escola, Rita jamais escapava dos castigos. "Isso é para escutares melhor!", diziam, sempre a puxar as orelhas das crianças que aprontavam alguma travessura.

Ficava com a expressão confusa, enquanto os seus amigos riam e davam-lhe palmadinhas. 

Cresceu com uma habilidade extraordinária de ouvir, apesar da ausência. Os seus amigos a chamavam "radar humano", porque ela conseguia escutar absolutamente tudo. Não só ouvia as conversas a quilómetros de distância, mas também conseguia identificar o que as pessoas pensavam, baseando-se apenas nos gestos e expressões faciais.

E assim, sem orelhas, Rita viveu uma vida cheia de risos, os segredos revelados e o incrível poder de escutar o mundo de uma maneira que ninguém mais podia. 

Afinal, quem precisa de orelhas ao ter o coração tão afinado?

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