O relógio marcava as três da manhã quando Pedro verificou as mensagens no telemóvel. "Mais um cliente ansioso para investir", pensou, sorrindo, enquanto os dedos deslizaram pelo ecrã, frios e calculistas. Nos últimos anos, tinha refinado a sua arte, fingia ser agente imobiliário, vendendo sonhos que nunca se tornariam realidade. Uma mentira bem contada valia milhares de euros. E ele contava-as sem pestanejar.
2 de fevereiro de 2025
Burlas e enganos
O relógio marcava as três da manhã quando Pedro verificou as mensagens no telemóvel. "Mais um cliente ansioso para investir", pensou, sorrindo, enquanto os dedos deslizaram pelo ecrã, frios e calculistas. Nos últimos anos, tinha refinado a sua arte, fingia ser agente imobiliário, vendendo sonhos que nunca se tornariam realidade. Uma mentira bem contada valia milhares de euros. E ele contava-as sem pestanejar.
31 de janeiro de 2025
27 de janeiro de 2025
Uma Aventura no bar
Miniconto de 300 palavras, tipo comédia ou brincadeira, com as seguintes palavras: Cerveja, orelha, revistas, selva, cachos
João tinha a certeza de que aquela sexta-feira seria uma noite normal no seu bar favorito. Sentado ao balcão com a sua cerveja preferida, folheava muito distraído uma pilha de revistas antigas que decoravam o local, tentando decidir entre “Os Mistérios do Mundo” ou “As receitas à portuguesa”. Nada parecia promissor, mas ele insistiu.
Enquanto isso, ao lado dele, Ricardo, seu amigo de infância, falava sem parar sobre a sua última viagem à selva amazónica. "Tu não tens a noção, João! Aranhas maiores que a minha mão e uns barulhos de macacos que pareciam gritos de fantasmas!" João, habituado às histórias exageradas do amigo, apenas levantou uma sobrancelha enquanto tomava mais um gole da sua bebida.
Foi então que Inês, a ruiva de cachos desarrumados e de sorriso sempre malandro, se sentou ao lado deles. "Selva? O Ricardo novamente a exagerar?" perguntou, roubando um gole da cerveja do João sem pedir licença. Ele suspirou teatralmente.
“Exagerar? Isto é ciência!” respondeu Ricardo. Mas antes que pudesse continuar, Inês inclinou-se e cochichou: “Ricardo, tens uma aranha na orelha.” Ele saltou do banco, a gritar e a agitar os braços como um maluco, enquanto todos no pub riam às gargalhadas.
No meio da confusão, João terminou a cerveja. "Obrigado, Inês. Precisava disto." Ela sorriu. "Cerveja e comédia. A receita perfeita."
21 de janeiro de 2025
O Jardim dos Sete Amores
No coração de uma vila esquecida pelo tempo, havia um jardim mágico. Diziam que quem atravessasse o portão enferrujado encontraria flores que simbolizavam as diferentes formas de amar, cada uma com um perfume único, capaz de transformar até o coração mais inquieto. Foi com esta promessa que Lara, uma jovem à procura de respostas para as turbulências do seu coração, decidiu aventurar-se naquele lugar enigmático.
Ao empurrar
o pesado portão, foi recebida por um aroma suave e uma brisa que parecia
carregada de murmúrios antigos. O caminho de pedras irregulares conduzia a uma
flor de pétalas azuis tão delicadas que pareciam feitas de veludo. Uma voz
sussurrante ergueu-se do nada:
— Eu sou o amor-próprio. Não sou egoísmo, mas o respeito que deves a ti mesma.
Sou a força para dizer “não” e a sabedoria de saber que mereces mais.
Lara ajoelhou-se, tocando a flor. O perfume doce preencheu os seus pulmões, trazendo-lhe memórias de momentos em que ignorou a sua intuição para agradar aos outros. Pela primeira vez em muito tempo, respirou fundo e sentiu um peso desaparecer.
Mais
adiante, um denso arbusto de rosas-vermelhas ergueu-se imponente, o seu aroma
intenso e quente a envolver. Uma nova voz, apaixonada e quase feroz,
manifestou-se:
— Eu sou o amor romântico. Sou o fogo que aquece e ilumina, mas também posso
queimar.
Lara hesitou
antes de tocar numa pétala aveludada, recordando momentos em que o seu coração
parecia explodir de alegria, mas também as noites em que chorou até adormecer.
— Por que feres tanto? — murmurou.
— Porque sou humana — respondeu à flor. — Nem sempre sou justa, mas sou sempre
verdadeira.
Seguindo o
caminho, Lara encontrou um campo de malmequeres-amarelos que dançavam ao sabor
do vento.
— Nós somos o amor entre amigos, o laço invisível que une almas sem cobranças.
Ajoelhando-se
entre as flores, Lara sentiu os olhos encherem-se de lágrimas. Lembrou-se de
Kica, a amiga de infância com quem nunca perdera o contacto, e de todas as
risadas e partilhas que viveram.
— Somos o abraço que consola, a gargalhada que cura, a saudade que aquece.
Cultiva-nos e nunca estarás sozinha.
Mais
adiante, sob a sombra de uma árvore frondosa, cresciam flores brancas que
pareciam brilhar como pequenas estrelas.
— Eu sou o amor incondicional — disse a árvore com uma voz profunda e serena. —
Sou o amor que os pais sentem pelos filhos, o que te faz continuar a amar
alguém mesmo quando tudo se dificulta.
Lara pousou a mão na casca rugosa da árvore e sentiu o calor de todas as vezes que encontrou refúgio nos braços da sua mãe. Um sorriso tímido surgiu no seu rosto, misturado com uma lágrima de gratidão.
Ao virar uma
esquina, uma trepadeira lilás enroscava-se graciosamente numa cerca
enferrujada.
— Eu sou o amor altruísta, aquele que dá sem esperar retorno. Sou o amor que
sacia a fome do faminto, consola o triste e luta por um mundo melhor.
Lara recordou os momentos em que ajudou desconhecidos, pequenos gestos que iluminaram dias cinzentos. A flor parecia exalar uma energia que aquecia a alma, uma lembrança de que o verdadeiro amor não conhece fronteiras.
No canto
mais sombrio do jardim, uma flor negra e solitária chamou a sua atenção. Era de
uma beleza misteriosa, quase assustadora.
— Eu sou o amor perdido, o reflexo das despedidas e das saudades. Não sou mau,
sou o contraste necessário para valorizares os outros amores.
Ao tocar a flor, Lara sentiu uma pontada de tristeza, mas também de aceitação. Lembrou-se de partidas, de despedidas dolorosas, mas percebeu que o amor perdido nunca é esquecido, transforma-se em memórias que moldam quem somos.
Por fim,
chegou ao centro do jardim, onde uma flor dourada irradiava luz suave, como se
guardasse o próprio sol no coração das suas pétalas.
— Eu sou o amor universal — disse a flor, com uma voz que parecia ecoar em todo
o jardim. — Sou a essência da vida, o elo que conecta tudo o que existe. Sem
mim, nada floresce.
Lara tocou a flor dourada e sentiu o seu coração expandir, como se todo o universo fosse-lhe revelado. Era um amor maior, que transcendia todas as formas que encontrara até ali, unindo-as num ciclo eterno de dar e receber.
Quando deixou o jardim, Lara não era mais a mesma. Cada flor que encontrara representava um pedaço da sua alma, um reflexo das complexidades do amor. Compreendeu que amar não é uma experiência única, mas um mosaico infinito, onde cada peça tem o seu lugar.
Ao regressar à sua vida, Lara sentiu-se renovada. O mundo parecia maior e mais luminoso. Estava pronta para amar — e ser amada — em todas as formas possíveis, sabendo que cada amor, na sua diversidade, fazia parte do mesmo jardim que florescia no seu coração.
20 de janeiro de 2025
Verdades
19 de janeiro de 2025
Fama
Lúcia sempre sonhara com a fama. Desde criança, encantava-se com os aplausos e os holofotes. Aos vinte e cinco anos, o sonho tornou-se real, uma estrela de cinema adorada por milhões. Mas a fama trouxe mais do que imaginara.
Certa noite, ao regressar do set de filmagens, encontrou uma carta na sua mansão, selada com cera preta. Não havia remetente, apenas uma mensagem perturbadora: "Tudo o que brilha tem uma sombra. Estás preparada para a tua?"
Lúcia tentou ignorar o aviso. Mas algo mudou. Sempre que passava pelo enorme espelho da sala, notava uma figura que não correspondia aos seus movimentos. Ao posar para as fotografias, um vulto indistinto aparecia ao fundo. Nos dias seguintes, os sonhos tornaram-se pesadelos, um murmúrio constante ecoava no escuro, como uma plateia invisível aplaudindo freneticamente.
Com o tempo, Lúcia começou a sentir-se observada, mesmo quando estava sozinha. O vulto no espelho ganhou contornos, um rosto pálido, com olhos vazios e um sorriso largo, que parecia sussurrar algo inaudível. Lúcia gritava, mas ninguém ouvia.
Uma noite,
enquanto descia para a cozinha, ouviu passos atrás de si. Ao virar-se, viu a
sombra, agora completamente sólida. Era ela mesma, mas mais alta, mais esguia,
com uma expressão distorcida de prazer.
— Quem és tu? — perguntou Lúcia, tremendo.
— Eu sou aquilo que criaste — respondeu à sombra, com uma voz seca. — A fome
por aplausos. A máscara que usaste. Eu sou o preço da tua fama.
Lúcia tentou fugir, mas a sombra perseguiu-a. Cada canto da casa estava ocupado por imagens suas: cartazes, prémios, capas de revistas. A sombra crescia com cada memória de glória.
Quando a manhã chegou, Lúcia desaparecera. No espelho, uma única frase escrita a sangue: "A fama tem um custo. Eu sou o teu."
As luzes apagaram-se, e o mundo esqueceu o nome de Lúcia. Afinal, uma nova estrela surgia, pronta para pagar o mesmo preço.
A BELA E O MONSTRO – O Musical!
Após o grande êxito de “A Bela Adormecida”, que foi visto por milhares de jovens espectadores e adultos, considerado “o melhor espetáculo para a Infância e Juventude”, Filipe La Féria escreveu e musicou uma nova adaptação de A BELA E O MONSTRO, inspirada no célebre filme do poeta surrealista Jean Cocteau, a partir do conto homónimo de Jeanne-Marie Leprince de Beaumont escrito em França em 1740.
A BELA E O MONSTRO, na versão original de Filipe La Féria, é um grande espetáculo para toda a família onde a beleza está nos olhos de quem vê e o Amor verdadeiro se esconde não na aparência mas na bondade e do coração humano.
Com um elenco de atores, cantores, bailarinos, músicos, cenários e figurinos deslumbrantes que irão transformar o palco do Teatro Politeama num mundo de mistério, encanto e fantasia que transportará crianças e adultos para as asas mágicas da poesia e do sonho.
“É à noite que é belo acreditar na luz” – in “A Bela e o Monstro”
18 de janeiro de 2025
Mulher Falcão
Na Itália do século XII, Philippe Gaston, "O Rato" (Matthew Broderick), é um ladrão condenado a execução que escapa das masmorras de Áquila, através dos esgotos, e foge para o campo. O Bispo de Áquila (John Wood) envia o seu Capitão da Guarda Marquet (Ken Hutchison) para caçar Phillipe; ele e seus soldados encontram Philippe, mas são frustrados por um misterioso cavaleiro negro que revela ser seu ex-capitão, Etienne de Navarre (Rutger Hauer), viajando com um falcão belo e dedicado. Marquet avisa ao Bispo sobre o retorno de Navarre, que entre outras coisas solicita a convocação de Cezar (Alfred Molina), o caçador de lobos.
Navarre diz a Philippe por que o salvou: ele precisa de um conhecimento que é único de Philippe, para levá-lo para dentro de Áquila e matar o Bispo. Enquanto viajam, Philippe se torna ciente de eventos misteriosos e assustadores que os rodeiam, incluindo o aparecimento a noite de um lobo negro e de uma mulher notavelmente linda (Michelle Pfeiffer), a qual não teme o lobo.
Navarre e o falcão são feridos em outro encontro com os homens do Bispo; Navarre envia o falcão com Philippe ao velho monge Imperius (Leo McKern), para curá-la. No castelo em ruínas, Philippe finalmente percebe a verdade, a qual é confirmada por Imperius: o falcão é uma mulher chamada Isabeau d'Anjou (Michelle Pfeiffer), que veio viver em Aquila depois que seu pai morreu em Antioquia (veja A Primeira Cruzada). Todos os que a viam apaixonavam-se por ela, inclusive o poderoso e corrupto Bispo. Mas Isabeau já amava o capitão da Guarda dele, Etienne Navarre, com quem ela secretamente se encontrava sem ninguém saber.
Acidentalmente traídos por seu confessor, Imperius, eles fugiram. Em seu ciúme doentio, o Bispo fez um pacto demoníaco para garantir que eles estariam "Sempre juntos, eternamente separados": durante o dia Isabeau transforma-se num falcão, de noite Navarre se transforma em um lobo negro. Nenhum deles tem qualquer memória da sua meia-vida em forma de animal, somente no anoitecer e no amanhecer de cada dia eles podem ver um ao outro em forma humana por um momento fugaz, mas nunca podem tocar-se.
Em desespero Navarre planeja matar o Bispo, ou morrer na
tentativa, tornando a maldição irrevogável. Mas Imperius descobriu uma
maneira de quebrar a maldição: ele e Philippe têm que convencer os
amantes a tentar. Se eles conseguirem vencer as aventuras que lhes
ocorrerão (incluindo um encontro com Cezar), no prazo de três dias, um
eclipse solar em Aquila vai criar "um dia sem noite e uma noite sem
dia": quando os amantes estiverem juntos em forma humana diante do
Bispo, a maldição será quebrada.
14 de janeiro de 2025
Basmatti Blues
8 de janeiro de 2025
Desassossego do alfaiate
7 de janeiro de 2025
5 de janeiro de 2025
Depois da Tempestade
1 de janeiro de 2025
30 de dezembro de 2024
A viagem mórbida
O relógio da estação marcava exactamente vinte e três horas quando o último comboio partiu, rasgando a quietude da noite. A locomotiva deslizava pelos trilhos como um predador silencioso e o som compassado do motor era a única companhia da escuridão. Lara, envolta num casaco que pouco fazia contra o frio, ajustou-se no assento. O veludo, outrora rico e convidativo, estava agora desgastado e áspero ao toque, refletindo anos de abandono.
O vagão permanecia vazio. A ausência de outros passageiros criava um silêncio quase palpável, apenas interrompido pelo ritmo hipnótico dos trilhos. Lá fora, o mundo parecia ter sido engolido por uma noite eterna. A paisagem era um abismo escuro, sem qualquer sinal de vida ou luz. Nenhuma aldeia distante, nem estrelas ou lua para quebrar o vazio. Ela observou o cenário, sentindo um desconforto que crescia à medida que os quilómetros passavam.
“É como viajar por um sonho quebrado”, pensou, tentando afastar a sensação de estranheza.
O comboio avançava e o embalo dos movimentos começava a agir sobre ela. As pálpebras tornaram-se pesadas e o cansaço acumulado finalmente venceu. Por breves momentos, entregou-se a um sono inquieto, embalado pelo som monótono do metal contra o metal.
Foi então que um solavanco forte a arrancou abruptamente da inconsciência. O coração disparou e os olhos abriram-se, confusos. Algo estava errado, acontecia alguma coisa. A locomotiva desacelerava, um pouco fora do normal, considerando que nenhuma estação deveria surgir até ao destino. Espreitando pela janela, os seus olhos fixaram-se numa placa enferrujada que emergia do escuro como um fantasma. As letras desbotadas formavam uma mensagem simples, mas carregada de um presságio terrível: “FIM DA LINHA”.
Um arrepio percorreu-lhe o corpo e apertou o casaco contra si, tentando afastar os calafrios. Aquele nome, aquela paragem, não fazia parte da rota. O comboio parou por completo. Um silêncio mais profundo do que qualquer outro instalou-se. As luzes do vagão começaram a piscar sem cessar, lançando sombras em movimento contra as paredes e o chão, criando formas escuras que pareciam dançar na periferia da visão.
— Está tudo bem? — perguntou a si mesma, mas as palavras soaram ocas, como se não pertencessem àquele lugar.
A luz extinguiu-se de vez, mergulhando-a numa escuridão densa. Lara respirou fundo, tentando conter o pânico. Os seus sentidos pareciam amplificados pelo vazio ao seu redor e foi então que ouviu o primeiro som, os passos.
O eco suave e arrastado vinha do longo corredor, aproximando-se lentamente. O som ressoava no vagão como se estivesse dentro da sua própria cabeça. Ela engoliu em seco e tentou falar, mas a voz saiu trémula.
— Condutor? — chamou.
Os passos cessaram abruptamente. Por um momento, a tensão era insuportável. E então, veio a risada. Baixa, rouca, quase animalesca, parecia um murmúrio feito para ser ouvido unicamente por ela. Sentiu o pânico crescer, e num movimento instintivo, virou-se, mas encontrou apenas o corredor vazio.
Tentou ligar a lanterna do telemóvel. O ecrã permaneceu negro, indiferente aos seus esforços. O som voltou, desta vez algo mais pesado a ser arrastado. Veio de trás. Ela congelou, incapaz de se virar imediatamente. Quando finalmente reuniu coragem, avistou uma sombra no extremo do vagão.
A figura moveu-se. Alta, esguia, com uma postura antinatural, deslocava-se como uma marioneta desajeitada. O rosto, agora visível graças a um breve lampejo das luzes, era desumano. Pálido e macabro, com olhos que eram apenas dois enormes buracos negros, onde não existia qualquer traço de vida. Um sorriso sombrio distorcido alargava-se por uma boca que parecia maior do que deveria ser.
— Não deverias ter vindo — sussurrou a criatura, com a voz fria como gelo a cortar a atmosfera.
Recuou, os músculos recusando obedecer ao instinto de correr. Tropeçou nos assentos e caiu, sentindo o impacto nas costas. Tentou arrastar-se para longe, mas antes que pudesse escapar, as mãos geladas agarraram-na pelos ombros com uma força brutal. Não houve tempo para gritar. O rosto da entidade estava agora a centímetros do seu, e os olhos, ou a ausência deles, sugavam-na para uma escuridão que parecia infinita.
Quando abriu os olhos, já não continuava no comboio. A neblina envolvia tudo, impossibilitando distinguir onde estava. Ecos de risadas e murmúrios cruzavam o ar, e à medida que os seus olhos se ajustavam, começaram a surgir os rostos. Desfigurados, contorcidos pela dor e pelo medo, olhavam para ela com uma intensidade esmagadora.
— Não há saída — murmurou uma voz, baixa e inexorável.
Lara gritou, mas o som perdeu-se naquele vazio que parecia sem fim. Estava presa. Um limbo onde o tempo não existia e os horrores eram intermináveis.
O comboio, no entanto, reiniciava a sua marcha. De fora, qualquer transeunte poderia jurar que era apenas uma viagem comum. No interior, porém, o horror aguardava pacientemente pela próxima vítima.
28 de dezembro de 2024
Reflexões de um Ano Bissexto
Vejo as famílias desfeitas pela soberba e por julgamentos implacáveis, onde a cobardia se sobrepõe ao perdão, mesmo entre aqueles que deveriam saber mais pela experiência de vida. Percebi que muitos conflitos desnecessários persistem, alimentados pelo silêncio e pela ausência das palavras certas nos momentos cruciais. Ainda assim, acredito no poder transformador do perdão. Como diz o provérbio: "O perdão não muda o passado, mas enriquece o futuro."
Outro pensamento que me acompanhou foi: "A cobardia veste-se de desculpas e arrependimentos tardios." Quantas vezes nos deixamos dominar pelo medo, que nos paralisa e impede de estendermos a mão ou pedirmos desculpa? E a soberba, que transforma pequenos em gigantes ilusórios, apenas para ser desmascarada pela verdade, é bem capturada pelo provérbio: "A soberba faz do pequeno um gigante, até que a realidade o derruba."
Ao refletir, percebo que errar é inevitável, um traço inquestionável da condição humana. Falhar como cônjuge, pai/mãe ou filho(a) faz parte da vida. Não temos manual para enfrentar certas situações e cada um carrega a sua quota de falhas, desde as palavras ditas no calor do momento até aos silêncios que deveriam ter sido preenchidos por gestos ou abraços.
Cada erro deixa marcas, algumas visíveis, outras enterradas no fundo da alma. Contudo, ao olhar para trás, vejo que essas falhas foram valiosas. Elas moldaram não apenas quem sou, mas também como me relaciono com aqueles que amo. O que realmente importa não é a perfeição, mas o valor que damos ao presente. É no agora que reside a possibilidade de reparar, de cultivar as conexões profundas e genuínas. O passado ensina-nos com a sua dureza, mas o presente oferece-nos a oportunidade de aplicar essas lições, amar com mais intenção e estar verdadeiramente presente, não apenas fisicamente, mas de coração aberto e atento.
Aprender nunca termina. As lições estão em tudo, no sorriso de um filho, no olhar silencioso de um cônjuge ou até mesmo na dor de um desentendimento. Cada emoção que sentimos, seja na alegria, na tristeza, na raiva ou na tranquilidade, carregamos algo a ensinar. É através dessas experiências que nos moldamos e aprendemos a enxergar o mundo com todas as suas imperfeições e belezas.
E assim, percebo que o caminho para ser melhor não é isento de falhas. Pelo contrário, é trilhado ao aceitarmos as nossas imperfeições, ao pedir desculpas quando necessário e ao recomeçar sempre que possível. No final, é o esforço contínuo de aprender, crescer e amar que define quem somos.
Este ano foi marcado por batalhas internas e tensões que testaram a minha capacidade de compreensão. Foram conflitos invisíveis, travados dentro de mim, onde as dúvidas, os medos e as incertezas assumiram formas inesperadas. No entanto, no meio desse turbilhão, encontrei algo surpreendente, as pequenas mudanças positivas que, embora discretas, trouxeram um alívio. Cada dificuldade parecia carregar consigo uma semente de crescimento, uma lição oculta que, aos poucos, começou a florescer.
Com a chegada do Natal, um misto de emoções tomou conta de mim. As saudades intensas e a tristeza ecoaram como uma melodia persistente, acompanhadas por um toque de negativismo, como se as sombras das batalhas passadas ainda pairassem. Mas, entre essas emoções, emergiu algo mais forte, a vontade de mudar e de viver com paz.
O Natal trouxe consigo um desejo quase urgente de criar memórias. Não apenas para preencher os álbuns ou as gavetas, mas os momentos vividos de forma tão plena que o seu impacto perdurasse no tempo. Talvez seja isso que o Natal simboliza, a capacidade de recomeçar, renovar a esperança e acreditar que, mesmo após um ano difícil, há sempre espaço para o amor, a partilha e novos começos.
Dizer que o ano de 2025 é o ano da família pode simbolizar renovação e reconciliação. A família é sempre essencial, e essa importância torna-se ainda mais evidente durante o Natal.
Apesar de sentir que amadureci, a minha criança interior permanece viva. É essa essência que mantém a esperança acesa, a certeza de que haverá um momento para dizer tudo o que ainda precisa ser dito.
Tal com a Analita diz, “A vida é um presente a desembrulhar, um dia de cada vez”.
Boas Entradas para 2025, que seja sempre melhor que o anterior.
26 de dezembro de 2024
Natal em Família
Quatorze à mesa, um laço de união,
Entre risos, memórias e recordação.
Crianças brincando, canções a soar,
No frio lá fora, calor a vibrar.
Pratos servidos com gosto e cuidado,
Sabores que unem, carinho ao lado.
Troca-se afeto, dá-se a essência,
Recebe-se paz, cultiva-se a presença.
No olhar de um filho, no abraço apertado,
A magia do Natal é amor partilhado.
Convívio sincero, sem pressa ou razão,
A alegria nos sorrisos é a maior emoção.
Enquanto a lareira o ambiente aquece,
O frio lá fora apenas esquece.
Aqui, a família é sempre o central,
E mais evidente se torna no Natal.
21 de dezembro de 2024
17 de dezembro de 2024
Espírito de Natal
Com alicate, ajeito a decoração,
No pinheiro brilham luzes de emoção.
Esponja de banho? Presente encantado,
Entre risadas, todos bem animados.
Um clip segura cartões de carinho,
Desejos sinceros no nosso caminho.
A pá recolhe os brilhantes do chão,
E o alho-francês perfuma o caldeirão.
Contos e cantorias rompem o silêncio,
A noite é festiva, amor tão intenso.
O espírito natalício aquece e floresce,
E a união da família jamais esmorece.
16 de dezembro de 2024
Um sábado bem-passado
A manhã começou serena, com um passeio tranquilo ao lado da minha cadela Loira, junto ao riacho. Um café e uma conversa leve, cheia de palavras soltas que dançavam no ar, com o meu companheiro.
Perto do meio-dia, peguei no carro e segui devagar a caminho do sarau da minha sobrinha mais nova, acompanhada pela mais velha. O sábado em Miraflores estava movimentado, com muitos carros estacionados em cima do passeio. Fiz o mesmo.
Sentámo-nos nos bancos de cimento, que desta vez, estavam cobertos com resguardos, afastando o frio. O tempo passou num instante, entre as entradas de grupos, das crianças aos mais velhos, muitas palmas, vídeos e brincadeiras. Quando tudo terminou, as meninas foram almoçar e preparar para a tarde. E caminhei até ao carro. Ao ver os papéis presos nos vidros dos outros carros, percebi, que já tinha uma multa. Bah!
Fiz uma pausa numa bomba de gasolina, onde tinha uma área de serviço e aproveitei para comprar uma sandes, um sumo e um café. Depois, segui caminho para o Palácio Baldaya. Entrei por trás, por uma entrada que parecia meio-abandonada. Mas, ao aproximar-me do palácio, senti-me deslumbrada, que lugar lindo, um verdadeiro tesouro escondido em Benfica!
À entrada, uma parede estava adornada com uma pintura enorme e vibrante. No jardim, uma árvore iluminada por luzes de Natal, havia mesas e cadeiras dispostas ao ar livre em que, criavam uma atmosfera encantadora.
Lá dentro, uma exposição de ‘puzzles’ capturou-me imediatamente. Era ali que iria acontecer o lançamento do livro. Mas as imagens dos ‘puzzles’ eram fascinantes nos mapas, monumentos icónicos, Los Angeles à noite, Lisboa, Taj Mahal, África, Sagrada Família, Torre Eiffel. E, claro, as impressionantes torres de Pisa e o Coliseu, em 3D. Como fã de ‘puzzles’, fiquei completamente fascinada.
Encontrei as minhas colegas e a formadora da minha formação de escrita, algumas delas conhecia apenas pelos “quadradinhos” das videochamadas das dinâmicas.
Estava quase a começar o evento, o lançamento do livro 'Sublime Querer'. Duas das três autoras, a Paula e a Cláudia, são pessoas que admiro profundamente, pelas histórias que tem, pelo carácter e pelas dinâmicas que fazem. A apresentação foi breve, mas cativante, despertando a vontade de mergulhar nos contos. Vou seguir o conselho: ler um conto por dia e dedicar vinte e quatro horas para reflectir.
Os autógrafos, as trocas de palavras com as colegas e as fotos tiradas pelo fotógrafo tornaram tudo ainda mais especial.
Antes de anoitecer, segui rumo à casa da minha mãe. Troquei de roupa, maquilhei-me e vesti um lindo casaco azul com pêlos. Quando a minha mãe e os meus tios chegaram, ficaram boquiabertos: “Uau! Estás linda, pareces uma fada madrinha!”
À noite, parti para a festa de Natal da empresa. Entre as conversas animadas, um copo de sangria, música da nossa época e dançar até os pés doerem, a noite fluiu como um sopro, cheia de alegria, convívio e descontração.
Cheguei a casa às três da manhã. Exausta, mas com o coração cheio.
15 de dezembro de 2024
Divisões
12 de dezembro de 2024
HISTÓRIA DAS RABANADAS
11 de dezembro de 2024
Dinamica Dezembro
Também na literatura o discurso pode ser modelado a partir de uma parcela corporal, como as mãos, a mão solitária, quase sem sujeito.
DESAFIO:
- TEMA: a mão;
- TAREFA: escrever uma breve ficção apenas narrando uma mão;
- O sujeito da mão não pode ser descrito física ou psiquicamente;
- Uma mão tem 5 dedos, 5x9=45, 45+9=56; 56+5+6= 67; Usar 67 palavras exatas;
- O narrador é na primeira pessoa (eu), pode ser a mão ou o sujeito da mão, e fala com um destinatário que trata na segunda pessoa (tu);
- DESAFIO: não pode usar nenhuma letra T;
Eu deslizo por superfícies enrugadas,
os dedos dobrados e linhas marcadas de jornadas.
Na minha presença, segues o compasso da minha dança silenciosa.
Inclino-me, recolho as migalhas ou sombras esquecidas.
Exploro as asperezas e as doçuras suaves.
Com energia, desenho as formas no ar.
A cada sinal guardo memórias, nas dobras, uma narração.
Apenas olhas, mas nunca alcanças.
Eu avanço, deixando pegadas que logo se desfazem.
8 de dezembro de 2024
Intimidade
Na penumbra do quarto, Clara sentiu as mãos de Marco deslizando sobre a sua pele. O calor do toque era real demais para um sonho, mas uma sensação de frio pesado instalava-se no seu peito. A cada carícia parecia trazer uma lembrança, mas também um peso que ela não sabia nomear. Lentamente, abriu os olhos. Marco não estava ali. O espelho em frente reflectia o quarto vazio, excepto uma sombra alongada atrás dela. Virou-se bruscamente, mas encontrou apenas o silêncio opressivo. Um cheiro de terra molhada invadiu o ar, denso e férreo, trazendo as memórias que Clara há muito tentava enterrar. Marco estava morto havia um ano. O acidente, tão repentino quanto brutal, ainda a atormentava. Mas agora, o toque persistia, quente, familiar e, ao mesmo tempo, aterrador. A porta rangeu, fechando-se devagar e uma brisa gelada fez os cabelos de Clara erguerem-se. Uma voz sussurrou o seu nome, grave e distorcida, como se ecoasse do fundo de um poço. Era o timbre de Marco, mas algo nele soava muito errado. Não era apenas o desejo, mas algo desesperado e faminto. Clara apertou o peito, tentando afastar a sensação de sufocamento. As lágrimas escorriam pelo seu rosto. "Estou aqui," sussurrou a voz quebrada, cheia de dor e esperança. De repente, as mãos voltaram, mais fortes, quase possessivas, envolvendo-a como uma prisão invisível. O espelho trincou, estalando em linhas que pareciam feridas e a sombra cresceu a sua volta. Clara tentou se mover, mas seus membros estavam pesados, como se a escuridão ao redor a absorvesse. No reflexo estilhaçado, vislumbrou um pouco assustador, uns olhos brilhando com uma luz fria e um sorriso que não pertencia a Marco. A última coisa que Clara ouviu foi a voz dele murmurando perto do seu ouvido, num tom amargo, "Nunca te deixarei." O quarto mergulhou numa escuridão total e a casa permaneceu num total silêncio. Ela percebeu que jamais estaria sozinha. Na manhã seguinte, apenas o perfume de terra molhada permanecia no ar, enquanto o quarto parecia mais vazio do que nunca.
7 de dezembro de 2024
Postais Mortíferos
3 de dezembro de 2024
Ronrons e mimos!
Vou escrevendo um conto e a medida que for
dizendo Stop muda de letra do
alfabeto: FHGI.
F- Foram momentos pensativos. Tiro meio-dia de férias, há que pensar na saúde dos que nos querem bem. Fui para casa da minha mãe, abri a janela, para entrar o sol, fraquinho, mas que ainda tinha força para aquecer. E o cheiro das flores...
H- Há momentos em que tudo o que desejamos é aliviar o peso das dores alheias. Quando vemos alguém a sofrer, uma vontade urgente nos invade, arrancar-lhes os sorrisos, oferecer conforto e distrair das aflições, mesmo que por breves instantes. Tentamos contar anedotas, improvisar uma atmosfera leve e carregar o ambiente com um bom humor quase forçado, mas genuíno no afeto.
Hoje, o consolo veio pela cozinha. Preparei uma canja simples, mas feita com cuidado, uma galinha desfiada sem ossos, nadando em caldo quente com massa de cotovelos, aquele tipo que parece abraçar o paladar. Para o prato principal, um bife grelhado, não perfeito, mas honesto, tão firme quanto uma sola de sapato, acompanhado por umas batatas a murro, que liberaram o seu perfume terroso ao toque do azeite.
E, para adoçar o momento, veio o ápice: uma maçã reineta generosamente polvilhada com açúcar e canela, assada até a doçura derreter na boca.
Cada gesto, cada prato, foi pensado para ser a cereja no topo do bolo. Um pequeno ato de amor para a doentinha, uma tentativa de lembrar que, às vezes, o afeto pode ser servido em colheres, com os bocados e aromas.
G- Golo! Acertei precisamente nas receitas perfeitas para momentos como este. Esperei mais um pouco, observando com satisfação as cores a voltarem lentamente às bochechas da doente. Um pequeno sinal de recuperação que me aqueceu o meu coração. Com a sensação de dever cumprido, arranquei de volta para casa.
Mal cruzei a porta, nem tempo tive para respirar. Assim que me sentei, fui cercada por dois caramelos peludos, os guardiões do meu sossego. Um aconchegou-se ao meu colo, ronronando como se fosse um motorzinho de pura felicidade. O outro encostou-se à minha perna, abanando o rabo como quem diz: "Estivemos à tua espera todo o dia".
Sorri, mas a pergunta veio à mente, será que consigo trabalhar? Talvez escrever algo para as minhas adoradas dinâmicas de aventuras? Mas como posso eu, ignorar aqueles olhos? Eles não pediam, exigiam a minha atenção e mimos, cheios de saudades.
Entre ronrons e os olhares cúmplices, percebi que, naquele momento, escrever podia esperar. Afinal, cada gesto deles era como um capítulo de um conto silencioso, feito de carinho, de lealdade e uma cumplicidade que só o amor genuíno sabe escrever.
I- Iria adiar o trabalho, iria escrever os contos com algumas letras, iria ouvir as outras meninas a contar as suas histórias, as suas aventuras. E dar risadas até cair para o lado, o melhor destes encontros online.
1 de dezembro de 2024
O Espelho Proibido
No mundo de Kaelar, os espelhos eram mais do que objetos banidos, eram portais para o inexplicável. As lendas sussurravam sobre os reflexos que não refletiam, mas simulavam, os habitantes de um reino invertido, à espera de uma fraqueza, de um momento para se cruzarem. Ninguém ousava desafiar a proibição, exceto Teryn, um aprendiz de alquimista, o qual a curiosidade era tão afiada quanto perigosa.
Num mercado clandestino, encontrou um pequeno espelho de moldura corroída pelo tempo. Entre as moedas trocadas e os olhares furtivos, sentiu o peso do objeto nas suas mãos, como se algo ali o observasse. Ignorou o arrepio. “Medo irracional,” pensou.
No seu quarto, à luz trémula de uma vela, Teryn ergueu o espelho. A princípio, viu-se como sempre, uns olhos verdes atentos e pele pálida. Mas, algo rompeu a normalidade. O reflexo piscou. Ele, não.
Teryn estremeceu. Largou o espelho, mas a imagem não desapareceu. Pelo contrário, sorriu. Um sorriso largo, desafinado e expondo os dentes afiados.
— Finalmente — disse a figura, numa voz rouca que ressoava dentro da mente de Teryn.
Ele tentou desviar o olhar, mas os seus olhos estavam presos. Os seus braços imóveis, não obedeciam. O reflexo, agora autónomo, moveu-se além do limite do vidro, como se a moldura fosse uma janela aberta.
— Devias ter ouvido as histórias, Teryn — zombou a figura, aproximando-se.
Um frio avassalador tomou conta do aprendiz. Sentiu um puxão, como se algo o sugasse para dentro do espelho, para um vazio gelado e insuportável. Quando o pânico deu lugar à realidade, percebeu que não estava mais no quarto. Ele estava do outro lado.
Do vidro, viu o seu próprio corpo, agora habitado pela criatura.
— Agora é a minha vez no mundo real — disse ela, sorrindo, antes de apagar a vela.
Na escuridão opressiva do mundo invertido, Teryn ouviu sussurros infinitos, as vozes indistintas de outros também aprisionados. Algumas vozes choravam, outras suplicavam, mas as piores eram as que gargalhavam, distorcidas pelo desespero que se transformara em loucura.
E então, entendeu, que ninguém escapava do reflexo.
30 de novembro de 2024
Sinfonia Silenciosa
Nos ecos profundos que o silêncio acalma,
numa nota vibrante, clara e inteira,
um gesto e uma escolha, na nossa palma,
compõem na pauta a melodia verdadeira.
O som das decisões, suave ou feroz,
flutua no ar como sopro ou grito,
vibra em cada riso e ténue voz,
no compasso onde o destino é escrito.
Há quem toque em harmonia plena,
com acordes de bondade e luz pura,
Há quem perca na alma pequena,
as dissonâncias que a sombra murmura.
A decisão, um acorde profundo,
cada erro, um defeito a ecoar,
no final, revelamos ao mundo
as notas que ousamos deixar.
A vida, partitura sem maestro,
com vibrações que o peito compreende,
a moralidade, no seu ritmo e gesto,
entre o caos e o sentido se estende.
Um concerto aberto, íntimo e constante,
um compasso que vibra sem cessar,
é a sinfonia em tom hesitante,
nos laços que ousamos moldar.
Nos espaços entre notas e silêncios,
onde a alma se desnuda e confessa,
é ali que repousa, sem artifícios,
a pura essência que nos atravessa.
Autora: Lara Fernandes (Larita Caramela) Enviado (não foi publicada).