No silêncio pesado da casa, onde o cansaço se agarra como sombra, o fio agora é elemental: água, fogo, vento e terra. Uma tapeçaria de forças que sustenta o mundo, que queima ao toque e ilumina ao olhar, dançando com aurora, noite e eternidade. Entre inundações de preocupações e explosões que rugem como vento, entre pedras que teimam em cair e luz que se infiltra por frestas antigas, o fio permanece, curvo, tenso, pulsando, mas intacto. Respira. Aguarda. Espera. Sobrevive. Quando o próximo ciclo acender sua luz, ele brilhará, silencioso, tecendo chão firme sob pés cansados, costurando palavras, tecendo silêncio em canto, costurando corpos em coro, entre sombra e sol, água e fogo, vento e terra, entre o que explode e o que se acalma. O fio não termina ele é chão, teto, poema, linha que percorre tudo, pulsando para além da página, no corpo, na voz, no espaço que respira.
A aldeia despertava sempre envolta num véu húmido, como se a noite exalasse um suspiro que ninguém ousava decifrar. Os habitantes moviam-se com cuidado, evitando certas janelas, portas que permaneciam fechadas desde sempre, como se respeitassem um pacto silencioso. Na casa mais antiga, de telhado cansado e janelas estreitas, Clara descobriu um rosário enterrado sob o soalho. Cada conta parecia conter uma gota de água presa no tempo, translúcida e fria, ou um fragmento de unha antiga que provocava arrepios. Ao tocá-lo, sentiu um calor estranho que lhe percorreu o braço. O silêncio da casa tornou-se denso, atento, carregado de uma presença que se contorcia nas sombras. Lá fora, o vento murmurava pelos campos, e dentro tudo parecia escutar-se a si mesmo. Nos dias que se seguiram, bênçãos pequenas começaram a surgir. A água do poço subiu, clara como nunca. As galinhas, antes inúteis, encheram o cesto com ovos. Até o animal gasto pelo tempo recobrou forças, movendo-se com cautela mas...