5 de outubro de 2024

Possível Criminosa

Estava sentada numa sala fechada com uma mesa simples e duas cadeiras entre quatro paredes, uma porta em frente e uma janela de vidros escuros que só permitia vislumbrar o interior. Estou sozinha e os ecos na minha mente perturbam qualquer vestígio de calma. Irrequieta, esfrego as minhas mãos freneticamente.

O peso das ações era inegável, posso nomeá-las?Não consigo.

Tenho a sensação de que o que aconteceu foi uma mera ilusão ou um pesadelo interminável. Por mais que tente, não consigo livrar-me da sombra do que fiz. Lembro-me de cada detalhe – a luz pálida a entrar pela janela pequena e suja, o sangue nas minhas mãos, o silêncio rasgado por um som estridente que parecia ecoar ainda nos ouvidos.

Engulo em seco. O que faço numa esquadra de polícia?

Ainda não sei se agi por medo ou por uma necessidade estranha de provar algo a mim mesma. A decisão veio de uma forma rápida, quase instintiva, como se no meu interior, tivesse tomado o controle e que tinha deixado pouco espaço para arrependimento ou reflexão. Tento decifrar se a culpa do que sinto é pelo acto em si ou pela minha incapacidade de compreender o motivo real por trás do sucedido.

Será que os inspectores conseguirão perceber o que realmente aconteceu?

O que me assusta é o que posso revelar, não só para eles, mas para mim. Será que realmente fiz o que penso ter feito, ou estou apenas a criar uma narrativa, tentando dar sentido a um caos que nunca deveria ter começado?

E a escuridão parece crescer, tomando conta de tudo. Este é o meu fardo – a constante reflexão e uma verdade que, talvez, jamais seja completamente revelada. A dúvida é um monstro silencioso.

E eu?Eu sou sua prisioneira, sem esperança de libertação.

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